sábado, 25 de março de 2017

Águas paradas…

Trago sempre no peito subtil imagem…
Mesmo que seja frio o pensamento.
Deixo a porta entreaberta à aragem.
Embora me perca nesse alheamento…!

Se todas as horas podem ser miragem…
E até no deserto existe um catavento.
Deixo aos dias a força, mesmo selvagem.
É o sonho quem impele qualquer momento.

Repara nas nuvens, como são escuras!
 Mesmo assim… o sol afasta as mais sombrias.
Por isso; deixa que o coração fale mais alto.

Olha em frente, não é qualquer planalto
que corta os laços. Já que é o pensamento:
Quem sobrevoa as águas, se estão paradas…




sexta-feira, 24 de março de 2017

O mundo enlouqueceu…

Deixa-me às minhas ilusões…
São o trampolim além do nada.
O mundo está repleto de papões…
A humanidade é uma criança abandonada!

A morte baila em cada esquina!
Mesmo à luz do dia.
A terra está oca e vazia.
Deixa que me enrosque, agastada.

Só quero dormir, mas até o sono é indevido…!
Deixa os meus erros são iguais aos teus.
Deixa os dos outros, são como os nossos.
Não percas tempo dá tempo ao sonho.

Já que o mundo enlouqueceu.


quinta-feira, 23 de março de 2017

O amor e a perfeição…

Presa naqueles dias…
Em que a busca das cerejas
lembra a madrugada.
E todas as estradas são roseirais.
Ou laranjal em flor.
E o sonhar é a pedra bacilar
numa estrada de terra.
As quimeras são todos os beijos ao luar.
E o amor é a perfeição.

E a interrogação…!
Se os beijos são luar.
As estradas roseirais.
E o amor a perfeição.
Porquê…
Se anda no mundo em contramão!




Musa...

Beija-me as mãos, mas em silêncio.
Não acordes os sonhos no seu clamor.
Atreve-te depois pelo compêndio…
Que é o meu colo… uma simples flor.

Aflora o meu rosto mesmo vazio.
Onde as rugas espreitam sem pudor.
Concentra-te nos lábios, tremem de frio!
E deixa aos olhos inquietos o sol-pôr.

Desliza pela madrugada até que o dia…
Traga nas suas asas todos os beijos.
Deixa ao sol a claridade e a magia.

Que embala e acaricia os corpos.
E não digas nada, repara na maresia…
Será ela a musa dos anseios inebriados.




O calor da chuva...

Depois de olhar o espelho, que me atrevo…
Pelas pedras da calçada, que é a vida.
Estará um rosto espelhado no céu, um enlevo…
Ainda assim: o silêncio em redor deixa-me dividida.
Se eu amar, ou, não amar, se falar, só por falar…
Se chorar, e mesmo assim no fundo da alma…
Despertar as gargalhadas ao jeito de bandolim.
Quem desvenda a minha saia rodada.
Pintalgada com as flores do alecrim.

Inercia interrompida é a troca de palavras…
Correm sobre os ombros e vão cair no regaço.
Destemidas, pelo caminho trocam as voltas…
Aos escombros… infligidos p`lo cansaço.

E se mesmo assim:
O espelho não trouxer um rosto.
É porque a terra, não é terra e as pedras são muralha.
Oscilando entre o silêncio e o grito esbaforido.

 Anda à deriva o coexistir do sonho e do sono…
E o tal rosto, lá está… perfeito, por entre os dias!
E o meu crer é inercia até ao brotar do mosto.
Não faças caso. Só os poetas sentem o calor da chuva.
Enquanto a alma vagueia pelas nuvens frias.



Intempéries…

Ah …! Dúbia espinha enterrada no peito…
Saltitando de eira-em-beira, presa
por um fio, tão fino… Tão fino e exposto…
Às intempéries, onde… A chuva é fresa.

Ou é a pedra fria moldada no desejo…
Sinto os ferimentos na rua gelada.
E mesmo assim, sei que por vezes invento.
Trovoadas e relâmpagos, e a tormenta…

Não é a consciência daquilo que sou.
É onde quero ir, e quem quero levar.
Se até nas ondas do mar se levantou…

A espuma que teima em ficar, mas cegou:
Os seus olhos, e o reflexo só veio, afirmar…
Que o vento por breves instantes amainou!


quarta-feira, 22 de março de 2017

Foi de lá que vieram as vacas loucas...

Da Holanda chegaram as vacas
Que depressa enlouqueceram!
Na Europa: espreitavam as dívidas.
Pasmem-se!  Até pagaram para não comermos!

Deixamos de plantar, neste país de sol…
As batatas foram ao ar acompanhadas do grelo...
Logo a seguir, o pescado e a indústria morreu…
Os milhões eram o rol... No brio que se (escafedeu)…

Atrás disto: a corrupção aproveitou a maré…
Enquanto o povo, crédulo, abençoava a ralé!
Foram milhões e milhões… Durante anos a fio!
Os juros sempre a subir e lá se ia o Brio…
Muito alcatrão e betão… Até, que secou o rio…
Como é triste a realidade… Venderam-nos ao deus dará…
Agora; pedimos por cá...
E a grande verdade... A seu tempo fugiu a paz!
Está escrito a vermelho e a bebedeira é insónia.
Não produzimos o que comemos e agora… Chora…
E embora apontem em jeito de xenofobia…!
Por entre copos de vinhos, azedo, está a razia.
Andou tudo embriagado, enquanto, o dinheiro se (escafedia)…  




Putas e copos de vinho...

Disse o homem em tom alarve
Ao sul é tudo artola
Vão às putas e bebem vinho
E depois só pedem esmola.
O vinho… Até aceito
Nesta comparação
Quanto às putas, é preconceito
Xenófobo e sem visão.
Mas já que a Holanda é um país
Densamente povoado
E já ninguém contradiz
O facto está comprovado.
Numa Europa despovoada
Sendo o sul uma catástrofe
Mas porquê a algazarra
Só porque o Dijsselbloem é um traste?
Se até muitos de nós
É lá que temos abrigo
Já que por cá não há Mós
Nem moinhos, só há castigo!
Sem me alargar nos números
Que por cá são derramados
A azia soa a furúnculos
Há muito confirmados.
Nos milhões que voam no vento
Sem se saber para onde vão
Sim, são cata-vento…!
E o povo só pensa em perdão.
Vamos lá esclarecer
Já que está tudo zangado
O homem tem certa razão
Por cá, é tudo esbanjado
Mas ao contrário da Holanda
A saúde está uma merda
A educação uma trampa
E as finanças à descoberta…!
Então, onde está a cólera
Contra o tal mafarrico
Se a Holanda é tão pequena
Mas é um país rico.
Como exemplo, perfeito
Daquilo que disse atrás
Dijsselbloem é um defeito
Mas a Holanda, está…
Ao nível da Corrupção
Do melhor para o pior
Senhores na comparação
A Holanda é a melhor
Está no quinto lugar
Nos honestos deste mundo
Mas por cá é de corar
O vigésimo oitavo lugar — diz tudo!
E logo abaixo de Portugal.
Os números não sabem mentir…
Eu sei que calha mal
E o melhor é fingir…
Cabo Verde e S. Tomé
O Brasil e Moçambique
Timor-Leste, a Bissau que é Guiné
Angola, e a Coreia do Norte.
E para terminar o rol
Lá aparece a Somália
Até parece que o sol
É culpado da indumentária!
Perante a constatação
Até dou por mim a pensar
Com tantos a meter a mão
O bacanal é altar.

Entre putas e copos de vinho
As metáforas são perfeitas
Sendo o Dijsselbloem um anjinho
Ao lado dos nossos proxenetas! 


Não sei...

A audácia com que a dúvida assola…
Assemelha-se a greta aberta na rocha.
A lava incandescente é esta ideia…
Impecavelmente banal e irrisória!

Triste pensamento que habita a floresta…
Circunscrita por pântanos sem giesta.
Só o vento é companhia e é funesta:
A indecisão que rebola numa lágrima…!

Quem és tu… se não me vês além de ti.
Quem sou eu… se definho sem olhar.
E o amor; será só um sopro, ou despertar.

Não sei… e será que tu ainda sabes cantar…
A balada que embala a alma ao passar.
Já que eu não sei, sequer… aquilo que vi.




terça-feira, 21 de março de 2017

Tentação...

Adivinho, sim...!
Enquanto o sol,
Confia às nuvens o traço 
do teu mosto.

Deixaste de ser um vulto…!
Nas ameias da minha mente,
és néctar que alimenta e cintila,
ao nascer do dia.
Até nas gotas de orvalho…
Procria a ânsia de ser.

Mas é de noite:
Que a mente procura…
Deixando aos pirilampos,
O traço do teu corpo.
A frieza da escuridão,
exibe em delonga,
o sonho.
E os teus olhos…
São; iluminaria!
Tentação…!
Por te saber.
Sem que o dia se atreva…
A ser.



sexta-feira, 17 de março de 2017

Sono...

Na ponta do meu olhar… Um ensejo!
Amparado pelo medo de estar só!
Eu sei…! Mas não quero e a seguir vejo…
O momento fingindo não ter dó.

Ao longe a música de um realejo.
Chega vazia, arrastada no pó…!
De um livro. Mas as letras… Já não vêem!
São os meus olhos, só querem fazer ó-ó.

É meia-noite, já são horas de dormir.
Em redor o silêncio é frio e assombroso.
Ao longe… Aquele cão continua a latir!

O seu ladrar chega num eco malicioso.
Agora: o momento está mesmo a sorrir!
Só o sono paira no tecto, o vaidoso!

( Poema já publicado e corrigido a 17 de Março 2017, dia mundial do sono.)


quinta-feira, 16 de março de 2017

Ousadia…

Eu sei que espero enquanto a vida pende…
Para os lados do sol-posto. Espero por ti…
No resguardo das ilusões, assim se estende,
a calmaria das horas e até penso… Já morri!

Na brandura dos dias só a alma entende.
Uma ilusão dúbia e esguia … Que só eu vi.
No ondular do sentir que o olhar prende,
ou no verde da esperança que antevi…

Num gesto de fruta madura está o condão,
de prender o olhar… Alfineta com ousadia!
Até, em palavras singelas se estende a mão!  

Mas tudo corre… Grita a noite: Quem diria…!
Que os dias passam e as asas são só ilusão.
É nela que enfraquece qualquer ventania.



sábado, 11 de março de 2017

Pôr-do-sol…

Como pedir que entenda…
Aquele, o outro, ou… tu aí.
Se nem ao vento atrevo.
Tudo o que já senti.

No peito as cores do chão…
Da terra onde nasci!
O horizonte em solidão…
A esfinge em que insisti!

E se o mistério é barro…
Lavrado em tempo injusto.
É o condão o charco:
Onde os sonhos pernoitam.
E a vida… a realidade vencida:
Ao pôr-do-sol!


segunda-feira, 6 de março de 2017

Ainda o BES… Décima

( Mote)

Amigos pensem comigo,
e vejam se tenho razão.
Até parece castigo.
Toda esta podridão.

No Banco de Portugal,
andava tudo aos soluços…
Muito contidos, patuscos:
Mas onde é que está o mal?
Não passa de vendaval!
Era o que faziam pensar.
Por isso; restava esperar…
Que o BES se safasse inteiro.
Escondiam o formigueiro.
Amigos pensem comigo…

O Senhor Governador,
de nada parecia saber.
Mas vamos lá esclarecer;
que este santo no andor,
até parece um pastor,
a guardar as ovelhinhas.
Desnutridas, coitadinhas!
Enquanto enganava a malta.
A escumalha estava safa.
E vejam se tenho razão.

Quanta areia foi jogada…
Aos olhos dos portugueses!
Já viram quantos fregueses,
encobriram de uma assentada?
E assim foi desbaratada.
As poupanças que sobraram.
De uma vida e se esfumaram…
Sobre um olhar complacente.
Enquanto fedia a retrete…
Até parece castigo!

Ou quem sabe é mau-olhado.
Que o impeliu a jurar:
- Não sei o que se está a passar.
O Salgado é honrado.
É um banqueiro equiparado,
a deus lá nas alturas.
O Governador em branduras.
Punha água na fervura.
E sossegava a assembleia!
Mas que parasita colmeia:
Toda esta podridão!



Portugal o que fizeste… Décimas

(Mote)
Estava eu um dia destes,
a pensar com os meus botões…
Portugal o que fizeste,
para atrair os barões?

Tudo rouba sem virtude!
Há uma inércia imbecil.
Isto já parece um covil.
Até dá ares a abutre.
O povo chora sem norte…
E deita as mãos à cabeça.
Resignado com a sentença.
De boca aberta, pasmado!
Em assombro alarmado.
Estava eu um dia destes…

Quando achava que tudo vi.
Uma ideia me assaltou…
Triste país em que estou!
A pensar nisto me atrevi.
Depois que no jornal li:
No Parlamento à dentada.
 Anda tudo à bofetada.
Mas os milhões lá escaparam.
 E por estes dias me deixaram…
A pensar com os meus botões:

Vencemos a ditadura.
Achámos que tudo era simples.
Esquecemos até os limites…
Onde é que está o pudor?
A casa cheira a bolor!
Ser honrado hoje em dia,
até parece fantasia.
De gente saudosista.
Já que é tão negra a lista…
Portugal o que fizeste?

Aos ecos de liberdade.
De honra e de bravura.
Está cavada a sepultura.
Digo eu com ansiedade.
Sem receio e sem vaidade:
Sempre que ligo a Televisão…
Anda tudo ao encontrão!
À direita e à esquerda.
E até o centro é corveta.
Para atrair os barões!


Safadeza... Décimas



 (Mote)

Eu juro que um dia ouvi…
É uma história de pasmar!
só não sei se entendi,
mas andavam a calar!

Até o Vírus foi alarve!
E os telhados são de vidro.
Anda tudo empedernido.
De ar sisudo, muito grave!
A criatura foi entrave.
E lá se foram os milhões…
Mas sobraram alguns tostões.
Ao e-factura sacados.
Estão os caldos entornados…
Eu juro que um dia ouvi.

Abrenuncio, santa barbara.
Senhora dos aflitos.
É preciso requisitos.
Abracadabra que safra!
Como é redondinha a cifra.
E foi parar ao deus dará…
Enquanto o povinho por cá…
Paga e torna a pagar!
Tudo o que estou a contar…
É uma história de pasmar!

A Maria, angelical.
E o Núncio, salvador!
Baixinho e sem clamor…
Até acham que está mal!
Mas o silêncio foi a cal.
Que soterrou a vergonha.
Isto parece peçonha.
A política é um vespeiro!
Quando o caso é dinheiro.
Só não sei se entendi!

Se já chegámos à altura…
Em que tudo é permitido.
E só o povo é vencido…
Com má-fé e sem bravura!
Tudo se cala à fartura.
Que o dinheiro pode comprar.
Se qualquer anjo no altar…
Desconfiava com firmeza.
Desde 2011... a safadeza …
Mas andavam a calar!


sábado, 4 de março de 2017

O Guadiana é Paixão… Décimas.

(Mote)
Disse o vento certa vez:
O Guadiana é paixão.
Desde o nobre ao maltês.
A todos já deu a mão!

Ouçam o que vou dizer:
Há um rio que é façanha.
A sua história é tamanha.
Que até eu a vou escrever.
A Espanha o viu nascer,
e o seu leito é altivez.
até rasga a aridez,
da planície alentejana.
O seu nome é Guadiana.
Disse o vento, certa vez.

Quando chega a Juromenha…
Às terras do Alandroal.
Tudo parece abissal.
Não há nada que o contenha!
Ainda se pode ouvir a senha,
nas noites de solidão,
de um contrabandista, irmão,
que a salto varava o rio…
Dizendo cheio de brio:
O Guadiana é paixão!

Está repleto de azenhas.
E de campos verdejantes.
Os salgueiros são mirantes.
E as margens, feiticeiras!
As águas, até são bandeiras…
Gravadas com sensatez,
na história que sempre fez…
Do rio, a sorte do povo…
Fosse velho ou fosse novo.
Desde o nobre ao maltês!

Gritou  o vento em carpido,
lá p`rós lados do Alqueva.
Este rio tudo enleva,
Pulo do lobo é cupido!
No inverno é gemido…
Em Mértola até é visão…
Com o céu, a união.
E na vila do Alandroal,
o seu peixe é festival.
A todos já deu a mão!


Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo