segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Mulher...

Êxtase, labirinto ou estrela cadente…
Até ribeira onde banhas o sentido.
É pluma na tua pele, sendo a tua, sedativo.
Ao toque da tua mão é apenas, amante.

É Rainha ou actriz. Se cala, logo consente…
Ela é: Canto de sereia ao teu ouvido.
O ventre é sempre um lago atrevido.
Nos teus braços pode ser um diamante.

Se em delírio te procura… não é loucura.
É vinho de um trago, o seu corpo é cristal.
Luxúria evasiva, na carne a candura.

Que buscas enlouquecido, por sinal!
Qualquer mulher pode ser a frescura.
A tua sede a ternura, ou só… vendaval.



Ninguém...

São frios os caminhos ou sou eu que tenho frio.
Também não sei quem sou, ou para onde vou.
Quando olho para o céu, imagino, é um rio.
Abano a cabeça e digo: Mas que louca sou!

Perco tempo com aquilo que nem imagino.
Umas, não sei, outras, não vi, até que dia raiou.
Há aquelas; em que olho para mim e desatino.
É quando recorro ao céu em que o olhar poisou!

E se os rios fossem o espelho das almas vadias.
E o céu fosse o abraço que se perdeu além.
O pior é que as nuvens são cisternas vazias!

Começo a pensar que me encontro refém.
Dos meus pensamentos. Podem ser orgias!
Se até neste mar de palavras: sou ninguém!


terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Quem és...

Olho para ti em silêncio e penso:
Quem és tu…Sol num dia de chuva.
Ou arco íris… sempre suspenso…
Ou és sombra… que me convença!

Talvez sejas a solidão… ou travesso.
Também podes ser a penumbra.
Que tenta esconder o avesso.
Ou a vaidade… Será que és a aurora.

Estranho enigma onde me encontro.
Sempre que olho para ti… Quem és.
Homem de mil palavras… Assombro!

Essas ideias, essas paixões… Quem és.
Quem sabe sejas apenas… Outono.
Perdido no vaivém de muitas marés!


Deserto sem Paixão...

Regressas sempre de mansinho
Às ruelas que teimas em esquecer
No rosto levas um choro miudinho
Meu amor quem entende esse viver.

Se até as sombras são, oásis
Num deserto sem paixão
Porquê as pedras em cabazes
Que teimas em soltar do coração

Se a morte está ali e é tão fria
Porquê viver na ilusão
De que a lua é sol e alumia
Se ela só brilha em escuridão

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Dor de cabeça...

Vivo num reino engraçado.
Onde a memória é (piquena.)
Até o Centeno, coitado.
Tece o rosário em novena!

Primeiro, jurou que não:
Não senhor, nada de acordo.
Agora, a confissão…
É tremendo o sufoco!

Afinal, teve conversas…
Diz ele com cara de caso:
 Não passou de promessas,
pensei que não era pecado!

Agora é que são elas!
Que dor de cabeça, ó meu.
Tu já viste as barrelas,
em que a Caixa te meteu?





quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Qualquer rima é cupido… Décimas.

(Mote)

Basta uma rima afiada.
Para deitar tudo por terra.
Se em Liberdade formada.
Ela corta como serra.

Tem piada a bagatela!
Disfarce ou indolência.
Mesmo que sem consciência…
Acho que é pura vaidade.
Recorrer à vulgaridade,
é correr, só por correr…
Esquece …. Só tem a perder,
quem usa o estratagema.
Para derrubar fraco esquema:
Basta uma rima, afiada.

Sem ser melhor que ninguém…
Assim levo o dia-a-dia.
Faça sol ou ventania.
Sei que posso ir… Além!
Sem soberba ou desdém.
Sou poeta de trapos rotos.
Na vida até levo socos.
De quem se acha, imortal.
O mal é eu pensar: Está mal!
Para deitar tudo por terra.

Na ânsia da aclamação,
há quem se torne, indolente!
Desconhece… Para ser gente:
Não basta ter instrução.
Já para ganhar o chão,
o suor deve correr…
E nada pode suster,
um poeta desiludido.
Qualquer rima é cupido:
Se em Liberdade, formada.

Este verso…. É estratagema.
Para derrubar aprumados.
Não basta gritar em brados:
Vamos matar um poema!
A névoa até faz pena.
Já que o verso é um leito!
Mesmo tosco com defeito:
Esta rima é soberana.
Quando quer rachar a trama:
Ela corta como serra.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Pobre coitado…

(Mote)
Mas que coisa tão esquisita!
Fala…fala… só por falar!
Acaso julga que a dita…
Cria asas, e vai voar.

O homem está perdido!
Será que ele quer ser actor?
Já que entra vestido a rigor…
Sempre muito empedernido.
 Solta um rouco bramido…
Bem no meio do palanque.
Tece ideias sem arranque.
Juro: eu não tenho paciência.
Para tanta maledicência.
Mas que coisa tão, esquisita!

Opina a torto e a eito…
 Até de cor e salteado.
Só bate. O pobre coitado!
Será que é delírio… ou é jeito?
Se calhar…. Pode ser defeito.
Malha em tudo por prazer.
Só que no meu entender:
Até…. Podia ter razão.
Não fosse, volúvel, a questão:
É falar… só por falar…

A deixa cheira a fastio!
Tudo está no mesmo saco.
Mas o discurso é tão fraco.
Que eu acho que está com frio!
Não encontro serventia,
para tão enrolada, azia.
Que querem, eu sou assim.
Da maldade faço um festim.
Da barrela faço, festa.
E da festa faço, besta.
Acaso julga que a dita…

É sorte deitada a monte…
Criatura tenha tento.
Separe a chuva do vento.
Sei que nem tudo é brilhante.
Mas há por aí muita gente…
Que até de olhos fechados.
Soltam do peito em brados.
Uma pobre rima perneta.
Toma a forma de um cometa…
Cria asas, e vai voar…





quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Crenças...

Estou tão cansada!
Gostava de ser considerada,
equilibrada.
De acreditar no passarinho…
Que as vespas também podem produzir mel…
E que as moscas, vão além do zum-zum.

Em vez disso:
Acredito que as abelhas,
 morrem, à ferroada!
Que as moscas,
 só servem para incomodar!
E que os passarinhos,
 também morrem!
 Se não souberem voar.

Estou tão cansada!
Se o mundo não estivesse,
 de pernas para o ar.
Fechava os olhos ao inútil.
Até mesmo ao fútil.

Estou tão cansada!
Vivo de cara fechada.
A viseira só serve,
o interesse de alguns…
Mesmo que saiba:

 Na balança das crenças...
Sou, desequilibrada!




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

O beijo de Judas...

Como posso ter certezas se até, tu…
A maior entre as restantes, aplicaste,
o  beijo de Judas no alicerce nu.
Abdicaste do amor. Assim derrubaste…

O pedestal… floresta virgem e cru.
Esculpido naquilo que renegaste.
Como ter certeza, se a luz pode ser véu.
Tapa com mestria o cálice onde bebeste.

Deixa as certezas ao tempo e à morte…
Que rolem em terra casta, hilariantes.
Nada é o que parece, não… como dantes.

No tempo das amoras e dos amantes.
Surtiu a laje fria. Dela, alimento a sorte.
Viaja sozinha… nas asas do vento norte.


Equilíbrio...

Todas as certezas são baralhos de cartas.
A um pequeno sopro, deitadas por terra.
São todas as certezas afiadas navalhas.
Rasgam a medula, enquanto a crença erra.

Por isso de que serve, acender fornalhas?
Se a vida é suma. A várzea acaba na serra.  
Ao riacho segue o rio e no mar abre alas…
Por entre a monção se trava a guerra.

Não sei de nada, nem sequer de mim!
Não sei… será metáfora que rendilho,   
por entre um abandonado, jardim.

Eu sei, é trave bichada e ainda assim:
Elevada em ombros. Parco andarilho,
onde me equilibro por temer o fim.


Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo