segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Trémito de um ciclo…

Termina um tempo onde o estar resultou…
Da resistência de ir além, de ser só por ser.
Senhora de mim, do meu destino. O que ficou?
Para além do aprender, restou o brio e o fazer.

Anseios traçados no limiar do ciclo que resultou:
Numa roda-viva! Nos dias bons o renascer,
de todas as andorinhas! Nas suas asas voou
a dor dos dias maus, que não devo esquecer.

É o tempo a imposição das ambições, o renegar
da inercia. Sempre que a sorte é ditada p`lo Brio
É o tempo… a junção da noite e do dia, o conjugar.

 Espera que não alberga medo e sim dominar.
 Limitações jamais serão barreiras… devem ser rio.
Nas suas margens o alicerce para o alcançar.




sábado, 29 de outubro de 2016

Quanto tempo...

Se eu adivinhar os teus passos…
Será que me olhas com olhos de quem vê além das pedras da rua.
E no teu coração existirá um nicho onde repousa a ternura.
Será que nas noites escuras chamarás por mim.
E nos dias tórridos procurarás a calma no meu ser.
Na ânsia da acalmia para os sentidos.
Será…

Ou pelo contrário, passarás apressado… sem tempo…
Oportunidade perdida à boca do caminho que os pés pisam!
E a cabeça esquece, enquanto o coração adivinha…
Horas de solidão… Quanto tempo?
Para que a sombra que passa apressada fuja.
Para que o dia reveze a noite onde estou.
Escondida dos olhos, longe do peito… enfim…
Será que se adivinhar os teus passos:
Os teus olhos me voltam a deixar ir…





Crença singela...


Quando me sento sobre as sombras do dia,
e adivinho os passos dos outros,
penso esquecer, qualquer dor ou lamento.
Incido o olhar nas esquinas nuas,
e redescubro orifícios…
Por onde se soltam os ais!
Outras vezes, fico somente:
A olhar o vazio das ruas sem vida!
Regresso à infância de pés descalços!
Na terra gretada pelo suão,
de um Agosto de todos os sonhos.
Ainda assim; dispo as certezas!
Esqueço ambições, mas penso em ti.
Visão incomum, maré de muitas ondas.
Ceara verde, tingida do vermelho,
de uma papoila saltitante.
E volto a ser crente, de uma crença singela!
Creio no amor pelo amor maduro.
De um cacho de uvas, de cepa agreste.
Creio na vida pela vida dada.
De uma costela do campo em rama.

Quando me sento… redescubro orifícios!
 Por onde se soltam os ais do povo…
Nessas alturas sou exígua:
Como partículas de pó;
nos dias estivais.


sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Perdemos tempo…

Procuro p`lo sol que não encontro!
Nem sequer na ruela da imaginação.
Tudo é deserto e um estranho confronto…
Faz dos meus dias, impulsor sem ignição!

Mas que mola motora incita o barómetro?
Se a mente mesmo que em sofreguidão:
Se distancia inevitavelmente do centro.
Por onde levita, irreconhecível a paixão.

Somos parcos de luz e sóbrios no sentir!
Perdemos tempo que ele não dá ao correr.
E mesmo assim; cremos que devemos cobrir…

O coração de fria estopa, estranho viver!
Num mundo perdido, onde escasseia o sorrir.
Enquanto as evidencias… se ocultam sem ser.



quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Alma...

Não esperes borboletas na noite escura.
Nem pirilampos quando nascer o dia.
Faz como o rio que derrota a secura.
Faz como a terra: Gira, faz a tua magia…

Observa, mesmo que ao longe a candura,
das águas que deslizam em harmonia.
Olha a natureza, esquece a loucura.
Afasta-te da correria. Olha a supremacia…  

Do azul do céu, por entre nuvens negras.
Que os ventos afastam à revelia da chuva.
É assim a natureza! Então porque renegas?

A mola motora que comanda a vida.
Não passamos de pó esvaído em frestas!
Enquanto a alma busca a sua guarida.


domingo, 23 de outubro de 2016

Indiferença...

Nas minhas mãos que pendem junto ao corpo…
Pendia também a esperança em ti, floco de neve…
Distanciado pelos limites de um ilustre amorfo.
Pende também o intervalo, de uma brisa leve.

Nas minhas mãos, o rascunho sem sopro!
Os dias sem calma, instante dissolvente…
Que à cabeceira dos anos, acolhem o novo.
No regaço desnudo, em tudo diferente!

Da tempestade que cai lá fora. Onde estás?
Expectativa remota que fervilha na fonte.
Que os olhos imaginam. Inquiro: Onde estás?

Se todas as promessas são vãs ao instante!
Se o teu rosto desconhece o meu! Onde estás?
Se negas os meus passos…  e tudo te é indiferente!





sábado, 22 de outubro de 2016

Trilhos...

Construo os meus mundos em torno do teu,
mas movo montanhas que jamais serão tuas!
Até; escavo crateras onde a ideia rejuvenesceu…
Quase sempre sou pedreiro de mãos nuas!

É dessa diferença que nasce um pigmeu.
Estranha criatura a martelar as entranhas;
numa luta constante para afastar o véu…
Propicio a um qualquer instante que abafas.

Porquê, eu? Insignificante grão de areia;
embrenhado na relação utópica com a vida.
Porquê, eu? Curto pavio sem candeia.

Como curta é a visão vaidosa e engalanada!  
Por poeira que tanto pode ser da areia,
como dos trilhos perdidos na tua estrada…


quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O que é isto de ser, Poeta?

´´ Ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens, morder como quem beija.``
Nada melhor do que meditar nas palavras de Florbela Espanca e assim iniciar uma curta reflexão, sobre esta coisa de ser, Poeta.
Não falo da pessoa em si, essa não é mais ou menos que outro qualquer, quando muito tem um dom que os restantes não têm. Mas hoje em dia com um bom rimador online qualquer um, rima.
O ser humano destinge-se pelas suas características ou qualidades, específicas, cada um terá as suas. O que se pode, ou não elevar é a sua arte, ou a carga que consegue transmitir aos pensamentos, seja numa análise crua das circunstâncias que o levaram a escrever, seja no tacto colocado no acto de escrever, ou no saber desenvolver a linha de pensamento de forma coerente e sucinta. Com isto não quero dizer que por vezes um pouco de falta de tacto não faça milagres. Principalmente quando a emoção se sobrepõe à razão, podem assim, nascer poemas sublimes, que em outras circunstâncias a pessoa jamais escreveria. A poesia é uma expressão artística, com a importância e o papel de outra qualquer expressão artística, fomentar o movimento em trono de um qualquer elemento.
Ser poeta passa sobretudo por ser impulsivo no pensamento, mas ao mesmo tempo minucioso e acreditem: Ser poeta dói e traz mais desconforto, do que conforto. Jamais um poeta se acomoda a estereótipos e muito menos é subserviente ao momento. Cada poeta deve ser único, só assim o seu trabalho terá valor, reconhecido. Um poeta não copia estilos, cria o seu próprio estilo, senão é igual a um copista, um pintor que só faça réplicas de outros pintores, pode ser muito bom, mas nunca passará de um copista. E ao contrário do que muitos imaginam, um poeta não fala só de si, fala do meio envolvente e principalmente tem que ser exímio e saber falar do futuro.
Um poema só o é se sobreviver ao espaço físico e ao momento em que foi escrito, de outra maneira é um texto em forma de verso. tal como acontece com o soneto de Florbela que se manterá eternamente actual. ´´Ser Poeta… é ter cá dentro um astro que flameja, é ter garras e asas de condor.``
E sim um poeta pode morder como quem beija, mas não deixa nunca de morder… no pensamento alheio.


De Antónia Ruivo, neste dia dos poetas.


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Reflexo...

Olho o espelho, no reflexo o tempo!
E no tempo o suor do rosto.
A neve nos cabelos, um brilho no olhar.
Olho o espelho e sei que sou, eu.
Uma costela da terra, prima do vento,
sobrinha da chuva como irmão o sol.

Olho o espelho, uma ruga atrevida!
Uma saudade escondida.
Um amor por sonhar!
Enfim… uma estrada a pisar.

Olho o espelho que trato por tu.
Frio e nu… enquanto o meu rosto sorri.




Todas as cores do arco íris...

 De que vale correr atrás do vento,
se ele espalha tempestades…
 Desliza através da brisa.
Faz como as borboletas,
Ao redor de um jardim em flor.
Ao fim da vida o amor.

 Não te percas no temporal.
Procura o chuvisco de verão.
Faz como o sol,
que espera que as nuvens se afastem,
 e brilha com mais fulgor.
Foge da solidão.

 Na quietude da tarde… o vento suão.
Uma partitura de Chopin,
uma guitarra a trinar.
Uma criança a brincar,
um sorriso ao desconhecido…
Tomarão a proporção das marés,
 tombarão aos teus pés:
Todas as cores do arco íris.


Faz como o tempo...

Repara: E se o tempo seguisse a direito …
Será que os teus olhos deixavam o chão?
Onde te fixas sem aparente razão!
Será que da tua boca sairia o clamor?
Que aos meus ouvidos trouxesse; emoção.
Ou uma balada ao por do sol…

Mas se o tempo corre em caracol,
onde somos marionetas,
de mãos abertas, suspensas…
Actores de um palco despido ao nascer!
No primeiro acto… horas incertas.
Como iremos viver?

Faz como o tempo …
Dá tempo ao tempo e a ti mesmo.
Nas mãos abertas, deixa que escorra a esperança.
Nos olhos a descoberta e no coração a força.
 Faz como o tempo, olha em redor…
Deixa aos pés o direito de escolher:
Todos os passos sem medo.


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Já o peito reclama…

 Vagueio pelas ruas em busca de um rosto!
Indago as esquinas, as sombras ao cair da noite…
Ri a meia-luz dos meus passos até ao sol – posto!
Só a primeira estrela da noite, insiste…

Aponta o caminho… A ilusão é um mosto!
Ou um figo maduro que nem sequer resiste:
À secura da boca ou ao resfrio imposto;
por uma quimera onde o querer insiste.

Baluarte de ilusões. Como é fraco quem ama!
Ou a alma iludida no aconchego do tempo.
Choro pelos passos perdidos, mas a chama…

Que alimenta o coração, afirma o oposto!
Afasta o vazio… É tarde, já o peito reclama!
Imerso na melodia de uma tarde de Agosto.


domingo, 9 de outubro de 2016

Como te levar a sério…

É para ti que escrevo, que invento emoções.
Para ti, que na curva dos anos negas e oscilas…
Temes o tempo que te rouba o tempo, contradições!
São esses avanços e esses recuos sem metas.

É para ti que escrevo, ser de aflições…
Trazes no rosto a capa das aparências.
 No coração o ermo por onde fogem ilusões!
Nem vês que a tez se tinge ao tom das evidências…

Não passa de neve fria e gelada essa oscilação.
Tira o sono, cansa a alma, mesmo assim… Insistes!
Num percurso insidioso, alheado na negação.

Como te levar a sério? Se negas ao coração,
a leveza das manhãs claras e sempre finges:
Não reconhecer o amor em prol da ambição.




Atitudes vãs…

Hoje; sei que o tempo é a capa da dor.
Perdi há muito a impaciência dos dias.
O corre-corre da alma em aflito clamor.
Hoje; sei que o tempo revive em maresias!

Não me olhes sou um péssimo actor.
Senhora de mim; enfrento razias.
Coloco no instante a beleza da cor:
Mesmo que negra; também tem fantasias!

São todos os momentos; parte da estrada.
Se faz sol ou se chove faz parte do tempo.
Ao dia segue a noite e ainda há a madrugada!

Logo após nasce o sol que estimula o anseio!
Assim: na quietude da alma me aninho afastada:
De atitudes vãs; que enfraquecem o sonho…


Quem sou eu…

Quem sou eu?
Uma flor tingida na memória!
Umas vezes; de um verde deslavado p`lo cansaço.
Outras de um tom púrpura, pigmentado no sonho.
Há ainda aquelas em que estou pintalgada:
Com todas as cores do arco-íris!

Nem sempre retorno ao ponto de partida.
Envolta num manto cor de barro, tingida…
Nem sempre. Sei que o ventre é o auge da terra!
Que os campos em flor são a minha razão.
E as dores da vida são o sangue do chão.

Não hiberno no receio daquilo que há-de vir…
Nem na firmeza que a certeza é ínfimo aconchego.
Se volto atrás no pensamento:
Visto as cores do montado e parto sem destino.
A magia do virar da curva está na robustez:
Com que se enfrenta o impossível.

Quem sou eu?
Se trago pigmentada na mente a solidão!
Nas mãos vazias trago a esperança que me olha.
No peito os choros de quem se cruza no meu caminho.
Ou os risos que me iluminam de mansinho.

Quem sou eu?
 Tão vazia e tão cheia de tudo!
Serei por ventura a costela da planície…
Vagueio como o vento aos quatros cantos!
 Estou cansada… cansada de mim e de ti.
Sonho inaudito que o tempo teima em trazer.
Mas afinal; quem sou eu?

Esquecimento…

Saudades; do tempo em que acreditava que as borboletas eram eternas.
Ou que os raios de sol derretiam sempre o gelo da alma humana.
Nesse tempo deslizava pelas encostas da serra, descalça de artefactos.
Nos pés gretados pela força do barro, moldava a alma.
No canto dolente de uma voz ao sol por, aprendia a ser tudo o que queria ser…
Uma corsa em harmonia perfeita com a natureza!
Ou um velho ermita na alquimia dos tempos. Um riacho de água colorida;pelo reflexo do céu.
Acreditava mormente na palavra sem me atrever a questionar o sonho.
Tenho saudades desse tempo! Mas guardarei a melancolia para quando me sentir, pequena…
Na imensidão do esquecimento, alheio.




quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Outubro…

Estou aqui…
Permaneço na sombra do dia,
ou sentada no beiral das noites.
Espero pelo vento norte…

Outubro, ou airoso vermelho!
Quando as folhas verdes cedem…
 Tingidas de um ocre cor de terra.
Deslizam… Mortíferas pelo sonho!

Outubro, ou o princípio do fim…
Nos últimos raios de sol.
Já adivinho o inverno.
Inferno gelado na terra gretada.
As mãos enrugadas na cara gelada.
Quem vem lá…
Grita a alma cansada!
  
 Estou aqui! Parada.
Presa no pensamento!
Como quem não sabe
que o tempo só é tempo.
Girando…Girando; ao redor do sol…


terça-feira, 4 de outubro de 2016

Mulher de palavras

Não sei de mim, perdida num mundo oco.
Olho a televisão e não me perfilho em nada.
Leio os jornais e só vejo coisas de louco.
Olho em volta e qualquer cara está fechada…

Então porque dói? Se não me revejo no pouco!
Estranha pergunta na solidão desenhada.
Com tinta invisível e nem um grito rouco,
acordará o sentir! Anda perdido, sem guarida.

Incompreensível ilusão; palavras por palavras!
Que é de mim ou de ti? Que é de nós, afinal?
Quando numa hora assombrada por balas…

Morre uma criança sem rosto! Surreal:
São todas as incógnitas sem lágrimas!
E serei eu mulher de palavras num pantanal…


Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo