sexta-feira, 29 de abril de 2016

Abril...

Acabei de sonhar com um cravo vermelho.
Empalideceu… Voltou a florir e não morreu.
Acabei de sonhar com uma papoila rubra.
Andou perdida por entre o povo,
para regressar ao campo em Abril…
Os dois: cravo e papoila no mês de Maio
Guiam a esperança num Portugal justo.
Acabei de sonhar.

Como se o sonho fosse o começo,
de todas as utopias por cumprir!
Como se o sonho fosse universo,
que a memória se atreve a parir!

Acabei de sonhar e uma lágrima cai.
Aí meu país de destino maldito.
Pobre do povo submerso em…ais.
Ai meu país os sonhos de então,
morreram na praia e o povo aflito…
- Ai… Que não posso mais.




quinta-feira, 14 de abril de 2016

Acaso...

Quando a terra fria beijar o meu corpo,
se por acaso me olhares de frente,
não chores. No barro encontrarei o conforto,
que os teus braços me negaram. Aparente:

É a rudeza da alma, jamais me importo,
com o que o tempo me nega. Serei diferente
até no pisar da calçada. Sou como o vento
ao passar pelas ramagens, docemente.

Levo nos olhos o condão de ir além…
Para lá do horizonte. Levo na alma a paz!
Levo até, estranha saudade, refém.

Dos meus e dos teus medos. Sou capaz
de adivinhar as emoções que se esvaem…
Num rio sem peixes, onde o acaso é fugaz.  




domingo, 10 de abril de 2016

Vai...

Mas, enquanto o sonho se erguer,
haverá um poeta no mundo.
Mesmo que seja o último.
Enquanto o sonho se erguer,
nascerá uma criança.
Mesmo órfã.
Enquanto o sonho se erguer,
caem as barreiras,
por entre o frio do arame.
E enquanto o sonho se erguer.
Um grito de alerta
terá a força de um trovão.

Então… vai…
Corre tal gazela no campo,
leva o sonho de mão em mão,
a paz às asas do sonho,
uma pomba aos ombros da vida,
e amor, onde ele falte.
Vai… corre nas asas do vento,
e afugenta o medo… de acreditar.



Afastados...

Andam os passos e os sonhos afastados.
Percorrem caminhos repletos de espinhos.
Anda o mundo aterrorizado!
Enquanto um grito de alerta se ergue,
por entre as fronteiras.
A ele se junta, um outro…_morte!

Pães… imploram as bocas
Paz… imploram os lábios
Sonho… implora uma criança.

Mas andam os passos e os sonhos, afastados…
Enquanto a guerra destrói o ser,
e o mundo de pernas para o ar,
parece não ver!
!


Não me parece...

Se escrever de amor: serei levada a sério?
Ou de sexo, pelo prazer do sexo?
Não me parece,…até as sombras tem medo
de olhar a claridade!

Deveria ser o contrário:
sombra, atrair a luz e, vice-versa.
Numa terra onde quem tem olho é rei,
é preciso pensar… mas nunca além da conta!

Estou cansada de mendigar palavras,
que não entendo.
Quero o meu quinhão à luz do dia.
Estou cansada de amores impossíveis,
onde abunda o sexo dos anjos.
Utopia impropria ao sonho.
Estou cansada, pelo prazer de estar cansada,
de mim!

Agora… se falar de amor serei levada a sério.
Não me parece…
Numa terra onde quem tem olho é rei,
resta o delírio... aos imperfeitos…

Deixem...

Procuro por entre balsas uma luz azulada.
Que traga na áurea uma cauda caída.
Um horizonte onde os mortos descansem,
em campa rasa, no coração dos vivos.

Procuro, mas não encontro!
Nem flores, nem picos, muito menos o dourado,
sem sombras…

Na impaciência descubro o cerne,
de uma terra seca pelo vento suão.
O gretado das mãos é semelhante ao barro!
Enquanto procuro a perfeição.
Impulsionada: até pelos meus defeitos.

Sou poeta de beira de estrada.
Acredito no luar de Janeiro.
No calor de Agosto, no cair da parra,
em Setembro.
Sou poeta de beira de estrada,
e tenho medo.

Por isso: deixem que sonhe…
E que traga nas costas o peso da frieza.
Ou que traga no peito o calor dos gestos.
Deixem que sonhe com o país real,
enquanto não morro.

Deixem que grite, ou que chore.
Se não virarmos as costas ao marasmo,
não sairemos do lugar.


sexta-feira, 8 de abril de 2016

Estado de alma...

Se ao chorar, cortam as lágrimas as paredes
para desaguar na terra seca e gretada,
que os teus pés pisam. Ou caem-me aos pés,
sem algazarra. Insidiosa e nefasta
é a incerteza!

Se ao chorar, terá significado o dia e a noite.
Ou será só mais um na roda da vida.
Só mais um dia… Sem que o sol aqueça
a utopia. Só mais uma noite sem luar.
Mesmo que esteja, lua cheia!

Se ao chorar.
será que importa o estado de alma,
se os teus passos vão em contra mão.
Enquanto invento perguntas,
que nunca saberás!

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo