sábado, 27 de fevereiro de 2016

Nada mais que tempo em ti...

Quase nada me espanta, _que ousadia!
Nem a cor, ou o céu, amarelo ou vermelho.
Onde o olhar por vezes é cru, outras… ventania!
Em frenesim defronte do espelho.

Se assim é…estaria melhor na noite ou no dia.
Por entre muros… ou em caminho velho.
Na busca de uma quimera … ou da alegria.
Se assim é, porque perco o que não tenho!

Tempo… nada mais que tempo, em ti.
Fraco sonho no descair do silêncio.
Que me impele na busca do que não vi.

Homens sem cor, grilhões ou compêndio…
São todos os sinais insano bisturi!
Atire a primeira pedra, quem não estiver ébrio.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Mistério...

Desalinho… tudo o que sobra de um beijo,
dado horas mortas, outros tempos.
Onde os corpos cansados num solfejo,
acreditaram; serem eternos os momentos.

Mas tudo passa afinal! E só agora antevejo…
 O estranho palco que é o meu pensamento!
 Em que a divina comédia pode ser realejo.
Eu e tu…os actores… sem perfil ou talento!

Mas não digas nada…passa em silêncio.
Não acordes o meu corpo, está vazio!
Em cada ruga que chegou sem critério.

Em vez disso, oferece-me um sorriso.
Numa valsa estrada fora. O caso é sério:
há beijos ao luar… que nascem do mistério!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Um segundo de acalmia...

Se os teu olhos são estrelas fugidias,
onde levito ao raiar da alvorada.
Porque nega a tua boca os bons dias,
se a vida foge em correria desvairada!

Perdidas no tempo, almas vazias…
Só lhes resta a lembrança iluminada.
P`lo espólio que se esfuma… em maresias.
Nos despojos de uma cama revirada.

E se o tempo meu amor é o oposto,
da ilusão passageira em calmaria.
Porque fogem os teus olhos em Agosto?

Porque passas apressado? Quem diria!
Que a duvida estampada no meu rosto,
é o que resta de um segundo de acalmia.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Por um momento...

Porque me olhas lua transparente?
Se no passar dos dias o sol se afasta,
nas pedras desnudas e frias que o tempo vaza.

Até o chilrear dos pássaros é incolor;
e o cinzento toma conta da alma!
Estranha é a maré onde escasseia a onda,
como estranha é a vida em roda-viva.
Onde o tempo de amar fica distante!

Então…porque me olhas lua vadia?
Palco de amores impossíveis…
Esquece por um momento as conversas
e traz ao descampado da praça,
uma quimera longínqua.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Estou cansada de mim...

Por vezes,
estou cansada de mim.
Queria calar, cegar,
olhar sem ver, ouvir sem sentir,
andar, só por andar.

Sim, estou cansada de mim!
Se só olhasse as borboletas
e descura-se os casulos,
imaginaria a utopia,
uma caixa de pandora,
ou uma casca de noz.
Se ao olhar o céu
não ligasse às nuvens,
imaginava que o dia não tinha noite,
e as crianças não tinham frio,
nem os velhos fome.

Estou cansada de mim.
Não queria escrever versos!
Nunca quis escrever versos.
Contentava-me com meia dúzia de palavras,
sem estória, ou significado.
Onde pernoitasse quieta,
e o sonho não tivesse espaço.
E ao mesmo tempo sonhasse
com o possível , pelo possível,
da resignação…

Estou cansada de mim!
Dos moinhos de vento:
dos quais corro atrás.
Mas se assim não fosse…

De que me servia ter voz?

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Amor...

Se amor é…
Num dia de chuva o sol do verão.
Um hino ao meio dia, o sorrir da paixão.
Ou: um gesto bonito vestido a rigor.
Se amor é… juntos na dor.

Porque faz frio no mês de Agosto?
A tua voz gela qualquer maré!
Ou se me achas feia de vestido vermelho:
a tua cara fechada em estrondoso banzé,
mata o que resta de um sonho ao luar.

Diz.
Se amor é…
Caminhar lado a lado pela estrada da vida,
onde perdeste a vontade…. Em qual avenida,
me deixaste para trás… Numa curva esquecida?


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Tudo isto...

Uma gargalhada de cortar a respiração.
Um bom dia sem pensar no amanhã.
Magnitude no bater do coração,
e depois. Depois: que a alma escale a montanha
que é a vida, pela vida, ao sabor da emoção.

Tudo isto eu quero, e tudo o que valha a pena.
Sem receio de sonhar só por sonhar.
Sem ambição de maior. Ou outra coisa qualquer…
E na minha utopia eu sei:
à noite segue o dia. Tudo isto: eu terei.




Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo