domingo, 26 de julho de 2015

Estranho pensar...

Às vezes imagino o poente, e nós dois
por entre os salpicos do mar,
onde a espuma na areia desvanece os passos.
Às vezes dou por mim a sonhar
com o arco-íris no teu olhar.

São todas as utopias nesgas de claridade,
na sombra que escurece a alma.
Sou eu corsário em nenhures, de parca estória!
Corista de fim de fila num palco sem ponto,
sou eu… Quem tece enquanto esquece
Um xaile de tosco fio.

E preso no fio da navalha o sentir refila.
Tudo porque quase sempre penso em ti,
e choro por mim! Perdida em estrofes,
poeta que engana a noite escura.
Que ri e torna a rir e logo mais sorri…
Dos salpicos do mar. Assim engano
o coração que lhe apetece chorar.
Aninhado num xaile de estranho pensar!




sábado, 25 de julho de 2015

Mas sou eu que tenho medo...

Às vezes visto-me no medo de perder os teus passos.
Desse medo pardacento teço a minha mortalha,
ignoro o sol na soleira da porta, só a chuva
lava as pedras da rua. Os riachos podem ser sonhos
de uma tarde de verão. Mas o medo escurece a alma!

Às vezes visto-me de medo num estranho crer!
Finjo que não vejo que há além ao amanhecer.
E que não sei que te divertes. Enquanto renego
que não sei que te vestes num irrisório prazer.
Brincas com os fantasmas que te rodeiam,
na dança das circunstâncias!
Redopia o teu corpo mas o coração definha:
tudo porque despes o crer da roupa do querer.
Mas sou eu que tenho medo!




domingo, 19 de julho de 2015

Porque um dia ainda voltarei a escrever todas as palavras de amor na primeira pessoa, nesse dia atravessarei as gotas de chuva em pleno deserto e de um cacto de mil espinhos nascerá uma flor que depositarei aos pés da cruz.
Até lá tenham uma semana feliz e não esqueçam: sem amor o mundo seria ainda pior do que está.



sábado, 18 de julho de 2015

Inquietação da Alma...

De uma brancura premente, esta saudade de tudo!
Do cheiro da tua pele, ou de um campo de lírios.
Da tua mão no meu seio: ou de verdes milheirais.
Saudade do vento suão: e de uma nostálgica canção! 

Até as sombras chinesas relembro noite dentro!
Em pleno mês de Agosto, na tua voz o trinar,
de uma cigarra ao calor. Da chuva na trovoada…
Aflitiva a memória, sonha e volta a sonhar!

Entra-me o vento pela janela da alma,
desassossega todos os poros da pele,
insiste em me chamar sua!

Nas trevas da solidão bailo desvairada!
Internem-me … Que a memória tingirá de mel,
todos os sentires que são teus!





quinta-feira, 16 de julho de 2015

sábado, 11 de julho de 2015

À flor da pele...

Se o amor é uma tábua rasa, ou Tabula Rasa:
onde o sentido escreve a direito na ondulação
de dois corpos. Se o amor é o acaso no ocaso
Um mar de libélulas onde pairam os olhares,
num breve instante. Que seremos nós?

Tu e eu, um grão de areia solto no vento,
do desejo. Pigmentação à flor da pele
 à revelia do ser, aninhada no querer,
a reboque do crer.

Tu e eu: almas em movimento na quietude da noite!  
Estranho o medo de amar, de entregar.
Quando muito a utopia é margem sagrada,
e a vontade fera esfaimada a reboque da vida.

Na minha Tabula Rasa escrevo o desejo,
saciado ao longe na poeira do caminho.
Gosto de ti. Mas desconheces!
Não me reconheces, mas sei que o teu sonho sou eu!


Tu e eu...

No estado contemplativo em que me encontro,
as respostas tardam em chegar!
Nada acontece por acaso,
então o porquê de questionar,
uma breve colisão.
 Cismático é o pensamento irreverente.
Tal como a saudade em escombros!

Observo os teus passos!
Pisam as pedras da calçada onde paira a solidão.
Observo o branquear dos cabelos, o teu rosto cansado,
revejo-me em cada fio de cabelo. Em cada franzir de testa.
Esporádicas as trocas de olhar, que não o são!
Contesto o acaso de uma noite de luar.
E o brilho do sol ao cair da tarde.
Contesto um dia de primavera tão cansado!
As mãos teimaram e a moinha recuou,
para logo se instalar.

Absorta na sorte e na quietude da noite,
rogo por mim e por ti, quem sabe rogo pelo infinito.
Há muito aceitei como castigo o silêncio!
E a passividade dos dias, então?
Porque me assola o pensamento,
 com uma estória de encantar.
Onde tu e eu fomos actores de uma luzerna ao luar.


Areia...

Não sei… Mas sei!
Areia em contradição que aflora
todos os bobos da corte…
Não sei… Mas sei!
Osso duro de roer!
Assim… destaca a concepção ao metro,
tão em voga!
Não sei… mas sei!
Que as palavras são flechas soltas na roda.
E as ideias não passam de alambiques,
onde as bebedeiras se saciam!
Todas as que me escorrem pelos dedos,
nas horas em que questiono. Porquê?
Se o mexilhão morre na praia,
porque se eleva o que não é,
e de areia se inunda o estaminé!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Só se deixa despir quem quer...

E agora? Cai o carmo e a trindade
Num padre-nosso a preceito.
Tudo porque me ´´despistes``!

Sim: é para ti a conversa.
São os filhos gerados na penumbra?
Na luz mortiça da vergonha.
Serão paridos entre paredes?
Amedrontados.
Ou, só acontece a alguns?

E agora? A procissão vai no adro.
Aos pés da cruz a vida!
Maria Madalena a santa perdida.

Sim: é para ti a conversa.
Que me ´´despistes`` com os olhos,
da escuridão!
São os pecados caixa de pandora.
E a virtude trocados!
Em mente de breu aguado!

E agora? Cai o carmo e a trindade  
no obscurantismo saloio!
Teme a claridade da mente liberta!
Da retórica faz coberta.
De estopa a pano-cru
A diferença é premente.
É para ti a conversa.
Só se deixa despir quem quer,
mas disso não sabes tu!






domingo, 5 de julho de 2015

Despe-me lentamente...

 Tem sempre uma palavra a dizer o poeta!
E pretendo que me dispas. Fá-lo com estilo,
desabotoa cada botão em destreza,
mas que a calma seja o pronuncio de além.

Tenho a ultima palavra, numa alcova de luar!
Quero lá saber se o sal se esvai,
se as únicas gotículas que conheço são as minhas!

Quer lá saber o poeta, do mel na voz,
se o quer na ponta dos dedos.
Ou do arrepio, se por entre os lábios
o mosto maduro é desejo e arrepia caminho.

Tem uma palavra a dizer o poeta.
Ou então… Todos os poemas de amor
serão cisco sem tempo.

Despe-me, atreve-te ao limite:
como me atrevo e alicio a tua fraqueza.
Desliza por entre os meus planaltos
enquanto me sacio nos teus.

Mas tem em conta que tudo me é permitido,
nas palavras que invento.
Matar, amar, roubar, mendigar,
sonhar, mas sobretudo excitar.
Até penso esquecer que sou gente,
pobre indigente, acho-me albatroz em alto mar!
Por isso atreve-te e despe-me lentamente.

Ao longe numa clareira onde a terra é coberta,
e as estrelas serão telhado deslumbrado.
O meu corpo jaz! Vê bem :serei o desatino
na tua mente. E nas cinzas em que então me tornarei,
bailam em  faúlhas aos teus olhos.

E mesmo assim: a última palavra será minha!



sexta-feira, 3 de julho de 2015

Atrevimento...

Se eu pisasse um trilho fácil, dançaria ao luar,
gritava, tenho tanto p`ra jogar.
Elevaria aos píncaros aquilo que sou
Para depressa me estender ao comprido,
ao perguntar ao espelho: que restou?

A direito,
sem modéstia ou falsa virtude,
piso com certeza todas as pedras da calçada.
Por vezes sangram-me os pés,
enfio a cabeça na areia.
Também me estatelo ao comprido,
sou assim: chaparro assumido!

E um dia: num tempo que não sei,
de um ano que não viverei,
todos os meus versos cairão ao chão,
e brotarão margaridas!

Vaidade desmedida que me assola,
consola, e fala baixinho:
sê tu, descalça de arabescos,
no atrevimento está o sonho.

E como todos os sonhos são fruto do pensamento
Escrevo versos e componho a minha mortalha ao vento.
E como o vento varre a planície nas noites de luar
Tenho tanto que aprender noutro tanto a desbravar.




quarta-feira, 1 de julho de 2015

Não seria eu por entre nada...

Se um dia escrever num poema: nada.
Estarão todos os meus nadas confinados
aos confins do impossível, e desvairada
jogarei palavras como se fossem dados.

Matarei o raciocínio na fria madrugada.
E a reflexão só será pretexto adiado.
Não passarei de alma deslumbrada,
saltitando em redor do meu pecado.

Até do nada faço anseio, triste fado!
E aos meus olhos: todos os nadas são luz!
Ou acaba por morrer aquilo que seduz.

Não seria eu, na facilidade que conduz
ao adorno. Mas se o nada é engraçado,
porque teimo um registo arriscado…




No silêncio...

Morrerei no silêncio.
Quem sabe:
calarei na garganta um grito aflito.
Uma nota singela em clave!
Calarei na garganta o sentido
do meu olhar aguado.
Morrerei no silêncio
de uma madrugada.
Fingirei que não é nada!
Quem sabe me oiças,
me adivinhes mesmo calada.
Morrerei no silêncio,
e a minha boca fechada:
gritará sofregamente!
A minha vontade esfaimada.
Alma desfolhada
de um cacho em flor!
Gritarei no silêncio
a palavra amor.
Morrerei sem saber
se o grito ouviste.
Morrerei a dizer
meu amor tu não viste!

https://youtu.be/-8kCwrL5SHg



Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo