sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Tão...

É tudo tão, tão polido…
É tudo tão, tão, tão!
Alarde vendido a metro,
E a montra a ver...
Acaba por parecer.

É tudo tão polido,
Confusos os sinais indagam.
Será por ventura castigo
Ou são nuvens de fiapo,
Sem humildade

Para olharem o espelho…

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Poesia...

´´A poesia é rima clara``
Perguntou ninguém a outro.
 Riu na sua cara
 E respondeu contrafeito.

Poesia é água na fonte,
Melodia ao nascer do dia.
Gesto de amor carinhoso
Raiva e magia.
Sobretudo inquietante,
Expectante ou distante.
Poesia é ser queixoso.

Levar nesse queixume
Pétalas de amor-perfeito.
Imperfeição nas palavras
Pode ser. Ou então…
Então, sangue que desliza no colo
De uma mulher em parto.
Deve ser calos nas mãos,
Suor de um camponês,
Um pobre que pede esmola.
Um bebé a chorar!
Poesia deve encantar
E sobretudo ficar.
Na retina além tempo.

Poesia também é rima
Mas muito mais que isso
É mutação em palavras
Que deslizam em safras
Corredias.

Ninguém olhou o outro,
Não sabia do que falara.
P`ra ele poesia era

Rimar e pronto…

Caminho...

Que não se percam os dias
Na poeira da estrada,
Nem as aflições geradas
Pelo irrequieto da vida.
Que não se perca o sorriso,
O choro até a raiva.
Muito menos o sonho…
Sob a incapacidade de ir além,
Onde as quimeras repousam.

Não te percas tu meu amor de outrora.
Não me perca eu no sentir de agora.
Que não se perca nada ao longo do caminho,
As lembranças são ramo de azevinho!

Adornam a alma na hora de sair.

Baldios...

Nos espinhos de um cardo elegi o sorrir,
De igual modo sepultei pretensão!
Aquela que trazia no ente a florir,
Ao contacto irrequieto da tua mão.

Nos baldios campestres atrevi-me a cair.
Senhora de mim, semeei afeição.
Claros sentimentos no campo a florir,
Que buscam a água na languidez do Verão.

Ou não fosse a água a seiva da vida.
Ou não fosse o amor uma flor tingida,
Pelo colorido que é o sentimento!

Ou não fosses tu quimera roubada
Aos sonhos de ontem de uma assentada…
Ou não fosse o rir cantiga no vento!

Se...

Se na falta de um abraço o mundo ruísse.
Se as trevas tomassem de assalto a vida.
Se tudo o que dói, enfim desistisse.
Se a noite e o dia fossem de vencida…

Perdida no espaço quem sabe existisse,
Uma torre de marfim torta e carcomida
Pela embriagues, e num cálice diluísse
A dor que no peito, teimosa habita…

Se, se… São tantos os (SES) que atormentam o dia.
Imensos queixumes da alma em chaga.
São tantas as iras que vacilam num areal.

Se a minha torre de marfim no agora ruísse,
E o topo do mundo aos meus pés se abrisse,
Quem sabe se o (SE) dançava num arraial…



terça-feira, 28 de outubro de 2014

Quem sabe...

Traz ao âmago o desejo inacabado,
de  um abraço apertado.
 E quem sabe o céu escureça de pudor…
Traz sentido numa frase incompleta,
 medula do sentir olvidada no fonema,
Onde a palavra amor repouse…
Atreve-te por entre a bruma das certezas
a incentivar felicidade,
E quem sabe durmas tranquilo…


Rapina...

De todos os poemas tramados.
Que solto no vento que uiva…
Uns são restolho pisado!
Outros, trincheira escancarada!...
Alguns: são merda gerada!
Por isso: descreio galanteio.

Ou não fosse a minha vaidade.
Mastro que ergo onde quero.
Melomania do meu ego.
Passos dobrados a preceito.

De todos os poemas tramados,
que solto numa valeta.
São gente da terra, suada.
São brio e tramóia…
Dores de partos… gerados…
Numa odisseia sem estória!
Acima de tudo brocados.
Orgulhosamente roubados.

Ao meu coração… que chora.



sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Arraial...

Elevei aos píncaros num dia de temporal
O desatino que é sonhar, corri, saltei,
E dei por mim estendida num areal.
Ali fiquei, morri ou só imaginei…

Que o tecto do mundo é efémero arraial.
Tudo passa ligeiro, ou só inventei
As certezas bizarras, estranho carnaval!
Que faço eu numa arena sem lei…  

E depois num dia qualquer. Pode ser de sol,
Darei por mim num campo de girassol.
Mas não sei do calor, não sei do sentir.

Que deixei lá atrás num atalho qualquer,
Só a saudade vem para me aborrecer.
Fria companheira na hora de dormir.



quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A voz da consciência (Conto)…

- Preciso fazer alguma coisa para não enlouquecer. Olha a rua através dos vidros entreabertos, e repara numa cadeira de rodas que desliza vagarosa pelo passeio fronteiriço. O seu olhar podia prender-se no homem de meia-idade, sem pernas, que encontrou na cadeira o seu meio de locomoção. Não, jamais repararia no homem, afinal toda a sua existência foi comandada pelo ´´ter`` sempre mais e mais, nem que fosse o esqueleto que agora a atormenta!
  - Que queres tu, logo tu que encontrou na luxuria o meio de vida. A sua voz soou tranquila, uma tranquilidade aparente, o seu íntimo fervilhava de asco, digo bem asco, apesar de ser seu amigo sempre lhe criticou os devaneios, como se chamar devaneios a verdadeiras aberrações que normalmente colocavam a vida dela e daqueles que a rodeavam em causa, fosse normal, mas também, como se a normalidade fizesse sentido ao olhar o seu rosto enrugado.
  - Os retalhos da minha vida assemelham-se a marionetas, dançam tresloucada mente no meu passado. Por acaso isso é pecado? 
Ou é impressão, ou ele juraria que está prestes a chorar. Conhece-a desde criança e já nessa idade era difícil algo ou alguém arrematar-lhe uma lágrima.
  - Manipulaste tudo e todos em redor, foi assim uma vida inteira, recordo como se fosse hoje o dia em que encenaste a tua morte, tinhas quando muito vinte anos, nunca cheguei a saber onde foste buscar a morta.
  - Qual morta, mas quem é que morreu?
  - Esquece, afinal de que serve remoer recordações, e as que tenho contigo são os meus pecados. Mas podes chorar, vamos chora verás que não dói, ou melhor, quando se chora só a alma dói. Vira-lhe as costas há setenta e cinco anos que a olha de frente, mas está cansado, tão cansado que só lhe apetece dormir.
Ensaia a retirada mas por um breve instante fica indeciso, qual o caminho a escolher. Se subir os degraus tudo será fácil, mas a facilidade sempre foi o jogo dela, contudo se retorcer e sair pelos fundos, sabe que daqui em diante nada será igual, olha-a de soslaio. Pressentindo a sua indecisão ela ri a bandeiras despregadas, e a sua voz deixa transparecer o desprezo por tudo aquilo que lhe começa a ser sagrado.
 - Sempre foste um frouxo e sempre me deitastes as culpas. E como te disse preciso fazer alguma coisa para não enlouquecer. Olha novamente para a cadeira de rodas e finalmente repara no homem de meia-idade.
 - Chega aqui. Como que movido por um telecomando, ele aproxima-se da janela.
 - Reconhece-lo?
  -Sim, quando era novo tinha imensos sonhos.
  - Não me digas que a culpada fui eu.
  Agora é ele que começa a chorar, enquanto ela continua a rir e vai falando.
 - Soube-te bem as mordomias, a vassalagem com que te olhavam e obedeciam, acima de tudo soube-te bem o dinheiro. Ah o bendito dinheiro, também te soube bem sempre que mentias por mim, sempre que olhavas o mundo de um patamar mais elevado. Olha para ele não passa de um pobre coitado.
 - Cala-te para sempre. Grita e dá três passos atras saindo pela porta dos fundos.
É de manhã quando abre os olhos, não, a claridade vem da lâmpada que pende sobre a sua cabeça, atarantado olha em redor, tudo lhe é estranho, estranha sobretudo a luz fria que ainda o vai cegar.
 - Está a acordar. Novamente uma voz de mulher. – Senhor Alberto, está a ouvir?
Abre e fecha a boca, mas nada de prenunciar palavra, como é possível se ainda há pouco falava a bandeiras despregadas.
 - Bem-vindo de volta senhor Alberto, sabe que dia é hoje, hoje é o primeiro dia do resto da sua vida. Assim o cumprimenta uma mulher simpática de bata branca.
Passaram cinco anos desde o terrível acidente que o atirou para uma cadeira de rodas, e hoje no dia em que faz cinquenta anos tem uma enorme esperança no futuro, a reviravolta que a sua vida sofreu fez-lhe ver que muito mais importante que estatuto, é ser-se feliz e contribuir para que os outros o sejam também. Com o acidente que quase o atirou para debaixo da terra soterrou hábitos obsoletos, passou a dar menos importância a bens materiais para se debruçar sobre os bens da alma. Finalmente pode dizer que é um homem realizado, e o caricato está na estranha conversa que teve com a sua consciência há cinco anos atrás. Dizem que esteve em morte cerebral, uma grande peta é o que é, como pode ter morrido se lembra tim-tim por tim-tim toda a conversa, e da escada que esteve prestes a subir. Só lamenta não poder falar dessa conversa com ninguém ou ainda corre o risco de lhe chamarem doido. Se quando ofereceu o casarão onde morava para fazerem um lar para os Sem Abrigo, e foi morar no pequeno apartamento de solteiro foi o que foi, imagina se tivesse contado a alguém que falara com a sua consciência enquanto esteve morto, e ainda por cima já tinha setenta e cinco anos!

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Isco…

Se é para chocar, vamos a isso…

Ontem na viela uma rameira perdida
Deu de caras com a má sorte,
Ainda menina tingida
De cor nefasta.
Sem pai e sem mãe
Pernas abertas gerada…

Logo ao lado em declínio
Um pobre bêbado errante.
Fez da rua morada
Seu telhado as estrelas,
Depois de ficar sem pão…

Mais à frente um rapaz
Num gozo descomunal.
Para ele tanto faz
Na ganza um bacanal…

E logo ali no portal da igreja
Uma mãe qualquer
Que na ´´ foda`` gerou filhos.
Pede esmola, engana a sorte
Numa ladainha de morte…

Mas há ainda por entre telhados
A vileza escondida de um pai quadrado.
´´ fornica`` a filha, e bate no peito consolado.
E aquela mulher continua na viela
Todos lhe apontam o dedo,
Esquecem que a sorte descura
Em princípios maliciosos.

Se é para chocar vamos a isso.
O quotidiano é propício
Ao olhar do poeta.
´´Fornicação``, vício ou isco
Tudo se encaixa no poema ilícito…




Poema erótico...

Se eu escrever um poema erótico
Começo assim.

Vem por entre a névoa da manhã,
Desliza na curva do meu ventre
Vem.
Traz ao meu âmago bagos de romã,
Às minhas coxas a vontade sã,
Que satisfaz o credo!

E depois no instante seguinte
Eleva-me ao céu em tormenta.
Escorrega silenciosamente
Por entre o planalto ao rubro…
Nos lábios deposita corrente
De prazer…
E agora, eleva ao alto o pensamento,
Acabei de jogar aos teus pés
Sonolento atrevimento
Que me faz mulher.

O poema pode ser Burka,
Ou então caminho insidioso.
Pode, vê bem ser Batuta,
Que desbrava sentir ambicioso!

E depois continuo…

No teu corpo viril meu êxtase,
Tremor desenfreado ao segundo.
Sucumbo ao teu cheiro
Ao teu gosto…
E no fim o espasmo certeiro
No terreiro que são os lençóis!
Resta somente a paz,
Ou talvez não…
Acabei de escrever erotismo
Na tua imaginação…




Alentejo

Ai Alentejo meu corpo dorido
De rugas profundas, socalcos de crença,
Teus olhos Trigueiros são sobreirais
Teu cabelo solto os verdes Trigais
Que trago no ser tal vento em gemido...

Ai Alentejo meu quinhão de esperança
De alma singela, criança travessa,
Nas mãos a enxada e a terra molhada
São águas brotadas alta madrugada,
De fontes perdidas, tempos de mudança...

Cravada no peito em dias estivais
É tão longa a estrada, curva insidiosa.
São tuas colinas, morena formosa,
Alegre cantiga de ganhão fogoso.
Ai Alentejo meu chão caprichoso...

De dolentes cantigas em boca mimosa.
A terra gretada p`lo calor do verão
Chora de dor, espinhos de rosa,
Cravados no peito em ostentação...


terça-feira, 14 de outubro de 2014

Faz de conta...

Traz-me Terra o que me falta
Nas horas de leviandade,
A enxada com que lavre
O pensamento que é fértil
Em perplexidade!

Traz-me terra em gemidos de rameira,
Sobriedade. A alcunha aventureira,
Natureza rebelde de fera enjaulada
Em panos de cetim, brocados de fel
De um olhar em espasmos.

  - Que mundo caduco!

Grita e esperneia por isto e aquilo!
Mas olha de revés a morte,
Enquanto lança na lama a sorte de viver.
Traz-me terra, Alentejo muito meu
Os olhos de outrora, a foice de aço frio
Arrancada ao pensamento de um homem do campo.
Eleva-a ao céu azul em castelo de sonhos,
 E lança na terra espigas de trigo,
E nas ribanceiras figueiras bravas.
Mas por favor deixa-me dormir ao relento.

Só na aridez serei eu…

Metamorfose da palavra
Sem significado plausível!
Traz-me terra uma cova funda
Para enterrar o que sou,
Escrivã de um tempo que desconheço,
De um reino em que amoleço
Sempre que me estico ao sol.
E no rol lavo a preceito
O que nem eu entendo.

Traz-me terra a má fama
De bêbado errante
E aí quem sabe o poema corra sem tempo.

Num tempo de faz de conta…




quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Onde comprar o meu livro Estranha Paixão.

Os amigos interessados em adquirir o meu livro Estranha Paixão podem fazê-lo na livraria onlin da Bubok, O livro encontra-se à venda no Site Português e Espanhol, também pode ser adquirido no Brasil, o pagamento é feito por transferência bancaria ou com cartão Visa. O prazo de envio é de quinze dias.

Basta colar este endereço no motor de busca ou clicar no Like abaixo da foto . http://www.bubok.pt/livros/8429/Estranha-Paixao
http://www.bubok.pt/livros/8429/Estranha-Paixao

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Correntes...

Há correntes no imaginário
Elos embrutecidos pela soberba.
Corroem e maltratam os dias
Cobiça adjacente sem nobreza.

Porque serás homem…
Nada mais que isso.
Molécula de um mundo em decadência!
Porque serei mulher apenas isso.
Átomo desqualificado na ignorância!

Porque seremos robots,
Peças simetricamente fabricadas,
Porque seremos fantasmas
De mente enjaulada…

Porque serei e tu também
Nicho imperfeito do sentir.
A quem roubaram os sonhos
E o medo de colorir…
O nosso mundo caduco,
Que de tão podre
Está prestes a ruir.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

O amor...

Após a ausência o encontro terreno.
Retorno maduro das águas de Maio!
Querer inquieto na ânsia de ter, o concreto...
Do amor que voltou, e na terra brotaram,
Margaridas em flor.

Outono.

No virar da página um novo dia
Onde as folhas caem por terra.
Outono de manhãs frias
Leva no vento e encerra
A noite de um tempo sem lei.

Nem sempre...

Complacente vem a aragem de um dia sem nome
No mosto da boca o murmurar da fonte
Seiva de vida tingida de dourado que é triste
Mas mesmo assim benévolo.

Nas mãos uma pomba de esperança
No nome liberdade,
Autonomia do querer aliada ao crer,
Simplicidade.

Do teu rosto moreno descai o olhar
Poisa em mim, ansiedade…
Nas maças do rosto areal distante,
Sem oásis de fruta madura, cheiro a alecrim
Enfim.

Nem sempre o inferno perdura
Num olhar faminto.
Quase sempre a história é triste
Nuns pés descalços,
Quase sempre.

Foto Alfredo Cunha.

Surpresa…

Se trazes ao meu peito o aroma do jasmim
Num sopro de uma manhã a despontar,
Ou então o suave murmurar
Da água que corre pelo campo em festim…

Se no fundo dos teus olhos vêem crateras,
A imensidão de um deserto ao luar.
Atreve-te nessa força a desbravar
Enfim, traz o desconhecido e sacia a almas…

A minha e a tua, só assim encaro o veredicto,
Ao entrar pela janela entreaberta.
Estranha noite de luar onde o grito
Que cortava o coração caiu por terra!

Trazes o infinito, será que vem para ficar  
Ou apazigua um coração impaciente.
Ânsia tresloucada, surpresa ao encontrar
Nos teus olhos um sereno convincente.




sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Perversa

Porque me chega no murmurar das folhas,
Na candura de uma tarde de Outono,
O eco frio das algemas, de uma alma sem asas.
E por entre o cair da noite um rumor a abandono?

E nesse instante as folhas amontoadas
Aos meus pés gritam em coro. O seu a seu dono…
Finjo, simplesmente finjo… São águas passadas,
Telhados de vidro de um rei sem trono.

Como eu queria ser formiga… perversa
É a mente com desejos amontoados.
Tudo porque na vida os sonhos são adiados.

Perversa é sorte de um Outono sem chuva.
Perverso o rumor que me serve como luva,
Enfiada das avessas de dedos esburacados…







Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo