terça-feira, 6 de maio de 2014

Deixem correr o poema...

O poema pode ser doce
brilhante, insidioso ou asqueroso.
Deve ser arrogante.

De uma presunção maliciosa 
ferir o olhar
alterar o coração
apaziguar e odiar.
Deve ser interrogação.

O poema deve ser fronteira
que se escancara par a par
nunca por nunca ser, barreira.
Entrave ao despertar.

O poema
um rio inquieto
a trespassar o mundo
nas mãos a paz,
sorte, mentira ou verdade.
Uma mulher nua
um homem em êxtase
uma criança que corre.
Um cão, vadio e amigo.

O poema é sangue nas veias
o voo de condor
é mente que esperneia
com amor ou com rancor. 

De que servem letras belas
se o recheio for oco
soltem versos nas vielas,
deixem correr as rimas.
Por entre ratos, vadios
e prostitutas, por entre
Igrejas e santos.
E mentes loucas.
Por entre gente comum.

Deixem correr o poema
é de todos e nenhum
silaba a silaba, fonema
escavado num trinta e um.


O resto, o resto até faz pena.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo