domingo, 24 de fevereiro de 2013

Hoje não escrevo poemas



Sabem porquê

Porque hoje não tenho palavra que corra solta
Tenho um nó na garganta que me tira o pio
A vizinha à pouco disse: Deve ser do frio
Encolhi os ombros, dei meia volta ligeira

Sentei-me então no portal da porta
À espera de quem passasse
Por mais de meia hora a rua vazia
Até que um velho se assomasse

Trazia nas costas o peso do mundo
No olhar a desilusão
Contudo deitou-me um olhar sisudo
Como se me desse um empurrão

Rapariga faz-te à vida, o que esperas
Olha que o tempo vai de fugida
Aí sentada de braços caídos
Só atraias uns tantos vencidos

Nem sequer parou para me dizer bom dia
Lá foi rua abaixo, foi-se a companhia
Hoje versos não escrevo
Não me apetece, ai mas que enredo.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Pergunta



No porquê da pergunta o silêncio gela
Todas as respostas possíveis, e a certeza
Do nó na garganta coalha a esperança
De que um dia me oiças

Porque espera a razão o que não conheço
Porque o medo assola o momento oportuno
E a vontade esvai-se num riacho sem fundo

Porquê, será complicado o meu jeito de ser
Serei tresloucada um tanto vidrada no silêncio
Perguntas e mais perguntas o mesmo sentido
Respostas que ficam por dar, no meu mundo perdido

No porquê da pergunta uma nova agonia
Na reposta por dar uma vida vazia
E assim se passam os dias os anos até
Assim a vida se esvai perdendo a maré.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O ninho




Hoje não saio da cama
Não lavo a cara muito menos vou rir
Porque hoje é um dia como milhentos
De uma vida sem metas a provir

Hoje definharei na fome de esperança
Ordenarei ao cão e ao gato sossego
O sol que não se atreva a entrar pela frincha
Da janela há muito trancada
A sete chaves da rotura anunciada
Pelas palavras em pedra arremessada
 
Não me incomodem, deixem contudo mensagem
Escrita a barro de preferência
Quem sabe amanhã moldarei o barro
Com as mãos nuas esculpirei um homem nu

E depois…
Depois, numa manhã qualquer as andorinhas farão nele o ninho.

Muros




A minha negação és tu, a contradição do meu pensar
Num instante quero-te com a força de vendavais
De seguida abomino este querer, são desditosos os ais
Que trago submersos no meu jeito de errar

Quando as encruzilhadas enegrecem assim os sentimentos
A existência é medonha e errante, por entre socalcos e tormentos
Desembainhamos vontade airosamente galante para de seguida
Enterrarmos a espada da razão ressentida, infernos
São todos os dias em que não te vejo, são espinhos cravados na mente
Oásis são os que contigo partilho, desassossegada mente no corrupio da vida  

O meu consentimento és tu, és o ninho em que saro as feridas
No teu peito adormeço, nos teus olhos me inquieto
No calor do teu corpo o cobertor de tantas vidas
As que vivi além tempo, o meu sonho perfeito

Que dizer deste amor que ao destino pertence
Da dor e da alegria que vivem paredes meias
Que dizer da vontade de fugir, inconsequente
E da firmeza com que te chamo à luz das candeias

Que dizer afinal nas lágrimas e dos sorrisos
De um amor esculpido no céu e que a terra fustiga.
São os homens pequenos e a alma mendiga
Caminhos trilhados, destinos vincados em muros precisos.


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Serei tudo o que quiserem



(´Serei tudo o que disserem´´ Ary dos Santos.)

Um dia disse o poeta
Serei vadio proxeneta
De palavras soltas no vento
Mendigo sem ter guarida
Contudo não terei medo
se um dia morrer sozinho
porque vesti a verdade

Esta pode nascer de um parto sereno
pode contudo parir até um certo veneno
cheirar a leiga vaidade, a pequenez no diálogo
afogar-se nas barrelas de outras tantas sombras
as que circundam o dia e á noite amedrontam
são sombras de almas sozinhas perdidas em  lago de sal
das vitimas que surripiam sem ecos ou vendaval

serei tudo o que quiserem
poeta de pouca monta
contudo meus versos riem
de uns tantos expostos na montra

da feira que é a vaidade
a vaidade em ser um tudo
que se desfaz na ansiedade
de quem se perdeu contudo
um dia sem perceber
não deixará nada atrás
pois mendigou bem-querer
e a sorte expirou mordaz

Serei tudo o que quiserem

Menos poeta mudo
O condão que deus doou
Não é meu e contudo
O que quiserem eu sou…


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Caminhos




Que fez o tempo com a nossa alma
Surripiou a cor numa tarde calma
E a primavera passou ao largo
Que fez o tempo, porquê o amargo
Da existência.

Sabes quem um dia sonhei alto
Imaginei a doçura do desenlace
O aconchego da morte quieta
Da sorte viva, do calor de um sorriso
O frio passaria ao largo
Tudo seria preciso.
 
Hoje no embalo da desilusão
Não encontro culpados
Quase sempre a razão
Ousa caminhos trocados


Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo