sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Alentejo



Paleta de cor terra
No verde a mistura
Suave ora agressiva
No olhar perdura

Renasce a cada erguer
Do inverno crespo
Odisseia amanhecer
No ar aroma fresco

Alentejo prolongar
Na planície o segredo
Da vontade a divagar
Na visão de um rochedo

Paixão suor memória
No barro o contorno
Colchão do meu sono
Nas letras o retorno
 
Agora em cores vivas
Pintarei a tua alma
Tuas vidas cativas
Alentejo a tua calma.

domingo, 14 de outubro de 2012

Calem-se




Calem-se os poetas esta tarde
As cordas das guitarras, concertinas
Crianças não estremeçam
Velhos adormeçam
Calem-se as folhas da árvore
Os rios os pássaros de penas finas

Cala-te povo do meu país
A hora é de espera
Tu sabes e eu sempre quis
Que a erva floresça na primavera
Cala-te povo meu irmão
Descansa por breves instantes
O amanhã está em ebolição
Nada será como dantes
 
Calem-se nesta tarde que é de espera
Ao longe o esqueleto se levanta
Resguardem forças e vontade
Amanhã seremos alavanca

Calem-se não acordem os mortos
Porque morreriam de vergonha
Amanhã sobrevoarão os corvos
A carniça de um governo a peçonha.

domingo, 7 de outubro de 2012

Certeza




Quando a nostalgia invade
Apreendo o sonho
Entre o espaço que vai da saudade
Por entre a esperança
Nunca é tarde nem cedo
Transportas a proporção exacta
Entre a minha firmeza e a tua vontade




sábado, 6 de outubro de 2012

Noite acordada



Na claridade do dia vejo nublado
É de noite que a ideia cativa
Voltas na cama penso e repenso
Voltas da vida noite esquisita

Perco o sentido das coisas sempre que acordo
Vivo na vida ao contrário não me sai da cabeça
Uma meada de sonhos reduzidos a escombro
Uma pedrada no charco p´ra que aconteça
Esbanjo saudades e desapego estranha mortalha
A lua já vai tão alta causa-me assombro
Tenho saudades por estranho que pareça
Quero-as ao longe por cima do ombro

Na claridade do dia vejo nublado
A negação é por fim dissipada
Aceito então o meu fado
Horas e horas na noite acordada.



terça-feira, 2 de outubro de 2012

Espuma




Nas mãos que se agitam, contorce-se medo
De errar, perder, pelo poder da mente cogita
O ganhar sobrepondo degredo

Cada vez mais sozinha a sombra
Descai sobre si num gesto derradeiro
Não sente nem sabe o paradeiro da sensatez
Cada vez mais sozinha a vontade de ter
Não sabe que o pensamento é soalheiro
Voa liberto, desconhece o ser
Nas mãos que se agitam somente a raiva
É espuma que negro sabão desbota.

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo