quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Aos meus pés


Aos meus pés descai um rio insidioso
Nos socalcos das margens o percalço
De um momento sem nome.
Todos os momentos carecem de nome

A dor de cabeça o momento actual
Nas costas o ontem infernal
Olhar nublado quase sempre é passado
Diferente um futuro almejado

A meus pés um país periférico
Retalhado de verde e vermelho
O verde da serra frescura sadia
Rubro da cidade numa ventania

Um rio insidioso é o que vejo
Sempre que presto atenção
Aos passos que passam, um desejo
No olhar e no coração

Gente faminta de crença passa e não pára
A criança que chora, o homem de samarra
Uma viúva com filhos pequenos tem fome
O rapaz desengonçado que esqueceu o nome
Como me dói aquele velho acolá
Um outro ao deus dará.
Como dói uma terra sem prumo
Como eu queria ofertar-lhe o rumo

Num poema escrito ao contrário
Igual a bebé no berçário
Costas para cima, a cara de lado.
Almejo roubar-te povo esse teu fado.

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