segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Barriga vazia

Nos lábios fechados entoa o grito
Da massa cinzenta em ruínas
Entoa o clamor de bocas famintas
Ali ao virar da esquina.

Nas caras sombrias retrato de um povo
Reflecte agonia, futuro indeciso
São tantos os filhos, os netos e o medo
De um concreto, incerto e escuro penedo.

Nos ombros caídos o olhar agoniza
Barriga vazia colada às costas
Sapatilhas rotas, roupa desbotada
Recordações adiadas, tempos de criança
Ali ao virar da esquina.

Repetem-se os tempos, Portugal inglório
São negros momentos, repete o velório
De uma crise profunda e a nuca do povo
Fervilha no terror de um estado novo
Portugal de um povo.

Pega na cartilha toma o destino
Expira-se o tempo e no desatino
Da memória recente ferve de vida
A vitória vencida na história marcada
Quando a fome é renhida cava-se a estrada.

Leva de vencida pega na enxada
Abril é bitola é pomba largada
Nos céus azulados é triunfo dobrado
Portugal de um povo tão mal governado.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo