domingo, 17 de abril de 2011

Indicio

Deixa que o sol penetre na alma
Que a brisa te seque os olhos
A vida pode ser calma
Mesmo que acasos
Nos levem a palma

Olha que o dia nem sempre termina
Quando a noitinha se faz presente
Até uma flor no Inverno germina
E o sol volta após o poente

Deixa que o amor te bata à porta
Que um acreditar te leve à loucura
Nem sempre uma estrada que nasce torta
É indicio de penosa lonjura.

Deixa-me

Deixa-me
Não digas nada, as palavras perdem
Outras vezes ferem
Não digas nada, de nadas
Também a vida precisa

Deixa-me
Sou a encruzilhada
Perdida entre negrura
Outras vezes sou a aurora
Sou tudo o que quiseres
Sem cor ou hora
Sou saudades, vaidades
Sou até amargo de boca
Quase sempre sou coisa pouca
Que se perde por entre o ímpeto

A precipitação arrojada
Que me faz caminhar sozinha
É a diferença alternada
Entre o querer que abale
E aquele que me diz
Se te fores de que me vale.

Deixa-me a solidão é vestido
Que consigo vestir em tom garrido.

Júlia Soares ( pseudónimo )

Má sorte

Por que fantasiamos os nossos passos
É tão fácil arranjar desculpa para a morte
Para a puta da sorte, até para os nossos erros
É tão fácil olhar o espelho, vermos um corte
Distorcido por entre a luz, são ermos
Os trilhos escolhidos, são faúlhas que viram cinza

Mas…

Tudo tem desculpa,
cruzamos os braços
Os vidros estão baços
Viramos a cara
Culpamos os outros
No final perdemos a vida
Ou melhor ela nos perdeu.
É tão fácil culparmos Orfeu

O país, um vento forte
Os outros, até o norte

Esquecemos que lá atrás
Fomos nós que escolhemos a dita
Porque raio o olhar não é sagaz
Por lhe chamamos maldita
Se o voo não foi perspicaz

Porque teimamos em desculpar má sorte.

sábado, 16 de abril de 2011

Arestas

Pesam-me as palavras fáceis
Cheias de nada
Pesam-me as arestas
Das palavras como flechas
Que me atiram à cara

São obesas
Quase sempre flácidas
Como posso rir
De moscas a zunir
Envoltas em trapalhadas

Pesa-me a palavra oca
Perde o sentido
Não passa de carpido
Mesmo em voz rouca

Teimam as horas
Em que as palavras me pesam
Os dias tenebrosos
Parecem cães raivosos
Mordem e desesperam
Choram as horas
Por silêncios imperfeitos
Com todos os defeitos
Da desilusão aprisionada.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Faça como eu

Faça como eu
Limpe as lágrimas
Com lençol de alpaca
Lustrosa raiva
Que me mantém viva
Remexo depois num camafeu
Que a vida levou
Ás vezes até fui eu.

Faça como eu

Não acredito no preto
Muito menos no cinzento
Quando chegam
Mostro-lhes o azul
Aquele brilho num olhar
De criança a cismar
Quero aquilo…

Mesmo que o preto teimoso
Teime em ficar
Cansado com o brilho do azul
Vira as costas
Se esvai pela frincha da janela
Aquela…
Que já nem sabia que existia
Mas…
Por onde de vez em quando
Entra um sol radioso.

Faça como eu
Não cobre da vida
Aquilo que não consegue dar
Recolha migalhas
Como quem guarda pérolas
No final terá um rosário
De amigos que não são imaginário
São parte do seu caminho

Faça como eu
Depois das lágrimas
Que teimam volta e meia
Em soltar raivas
Fique paredes meias
Com o azul do céu

Verá escrito nas nuvens
Aquela além olha por ti
Por isso faz a tua parte
E hoje para a vida sorri.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Não nos queira mais F…der...

Ó doutor Fernando Nobre
Uma dor que me atormenta
O senhor é pelo país
Ou é pela vestimenta

Mas onde fica afinal
O discurso dos defeitos
Se agora se mostra igual
Ou ainda com mais tentáculos

O povo é quem mais ordena
Foi assim mais ou menos
Já não tem que fazer novena
Mas afinal, ordenhemos

A vaca até dar leite
Quer é subir depressa
Não está pelo ajuste
Tanta pressa, tanta pressa

Ó doutor Fernando Nobre
Não tenha demasiada sede
Olhe, por acaso somos pobres
E ainda temos buracos na rede

O peixe pode ser miúdo
De jaquinzinho não passa
Mas sabe enxotar o graúdo
É é um ar que lhe basta

Tudo igual ,cheira mal
Essa sede de poder
Ó doutor não seja igual
Nem nos queira mais F…der





Quem cala

Se eu conseguisse calar
Aquela pulga faladora
Aqui, atrás da minha orelha
Me diz, já tarda demora

O céu, a luz do sol
Um floco de neve fria
Cala-te, não vês que já é dia
Afasta-te do meu lençol

Tarda o riso
A madrugada
Os grilos na primavera
Será que não tem juízo
Pulga ingrata
Verás o que te espera

Continua falando
Melhor incomodando
Tarda um abraço apertado
Um olhar adocicado
Aquele beijo roubado
Tarda andar de braço dado

Ás tantas já não a ouço
Agarro no mata moscas
Mando-lhe dois safanões
Umas tantas palmadas
A pulga em aflições
Foge por entre risadas

Podes bater à vontade
Fica aí feito maluca
Que eu vou segredar a verdade
Ao ouvido de quem me ouça.

Depois de um longo sossego
Assim que a pulga abalou
Peço, volta eu confesso
Que a tua falta matou

Esta sede de omissão
Que de vez em quando me abala
Podes falar, porque quem cala
Não é dono da razão.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Se


Fecho as pálpebras
E deambulo pelas cordas de uma guitarra
Estou livre do obscuro e de amarras
Fecho as pálpebras

E voo

Um voo rasante pelo suposto
Se…
Se eu fosse
Visse
Ouvisse
Se…
Antes da morte sentisse
Que ela batia à porta

Imagino

Um dia de sol
O branco de um lençol
 Um ramo de violetas
Papoilas nas valetas
Se…
Eu soubesse o teu olhar

E o mar

Será que é azul
Lá longe, ao sul
Será que o mar
Engole
As minhas fantasias
Trará razias

Em jeito de acordes

Deambulo pelas cordas de uma guitarra
Presa pelo pensamento
Que me chega no momento

Em que imagino tantos pontos de interrogação…


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Se eu soubesse


Se eu soubesse porque me doem os dias
As noites e as manhãs frias
Uma folha de papel em branco
Porque me dói o nevoeiro em espesso manto
Porque me doem razias
Outras tantas vezes o pranto
O medo e até o quebranto
Porque me doem fantasias
O belo canto, ou maresias

Se eu soubesse para onde vou
Aquilo que já não sou
Até o que virei a ser
Terei hora p`ra adormecer
Outra para acordar, onde estou
Se os meus olhos pudessem ver
Quem sabe enaltecer
Uma dor que albergou
Incerteza que chegou

O que serei ao morrer
O que a vida me está a esconder
Se eu soubesse, se eu soubesse
De onde me vem esta vontade de saber.

Alentejo

Alentejo

Alentejo corre no sangue
Na pele de mulher morena
Estatura por vezes pequena
Rugas marcadas p`lo tempo

Alentejo é rapaz airoso
Uma pele cor mel
Despejado de qualquer fel
Olhos castanhos, cabelo preto

Alentejo tem calos nas mãos
Uma lágrima que marca a vida
Não é vazia, é desmedida
Alentejo é adoração

Pela terra que é barrenta
Vermelho é sangue e cor
Não vira as costas à dor
Alentejo é Portugal

É raiz de muitas vontades
Não gosta de leviandades
Alentejo, sou eu és tu
Um futuro, outras vezes nenhum

Alentejo é sol nascente

É criança, é filho ausente
É pai que já partiu
É mulher que sempre pariu
Os filhos que a vida têm.



Amor

Amor, pode ser vaidade
Não me olhem não é leviandade
Amor é água translúcida

Hum…um pote onde escorre mel
Amor por vezes sabe a fel
Lá me estão a olhar outra vez

Amor, pode ser saudade
Esta agora não minha
Pode ser erva daninha

Pode ser o diabo à solta
Enorme reviravolta
Ou dor de cabeça

Pois, amor pode ser o sol
Amor até é lençol
Cobertor em dias frios

Pode causar arrepios
Ficar com pele de galinha
Amor será sempre lonjura.


domingo, 10 de abril de 2011

Conversas


Quero conversas francas
Não me digam que em paredes brancas
Uma mancha branca não se vê

O branco não é raiz quadrada
Malha apertada
Anzol onde pende isco

Claro que sempre arrisco
Mesmo que seja arisco
O primeiro olhar

Conversas a desvendar
Outro ângulo, outro afirmar
Conversas pelo gosto de conversar.

Saudade

Esta noite deixem-me ser só poeta
Não me peçam que pense sem ser em verso
Tem dias em que me viro do avesso

Esta noite só conseguirei juntar as sílabas
Que falem de amor
Escondi debaixo da almofada, dissabor

No meio dos lençóis deixei pavor
Debaixo da cama, estou eu
Tal qual um dia nasceu

Esta vontade matreira de ser poeta

Esta noite escreverei vontade
Mandarei p`rás urtigas, vaidade
Não me dói o coração…

Afirmo esta noite quer queiram ou não
Que escreverei saudade.

Onde está

E depois eu quis um amor simplificado
Imaginei-me numa casa sem telhado
Onde dois braços seriam a trave

E depois imaginei o sol poente
Onde tudo seria tão diferente
Bastaria prenunciar o seu nome

Para que o Inverno se afastasse
Tudo o que era caduco eu negasse
Para que o amanhã me trouxesse

Um rosto

Mas onde está esse amor simplificado
Não tem corpo, não tem gosto
Pergunto ás telhas do telhado

Onde está esse amor tão atrasado.



Vendaval

E se o vento se calasse
Se esta vontade medonha
Partisse, simplesmente deixa-se
Que os galos cantassem, enfim
Mas não, chove e tudo molha

Molha o peito e o regaço
As costas já tão curvadas
Molha até o embaraço
De não saber porque estradas

É que há-de caminhar
Vai em frente, ou de revés
Segue de lés a lés
Retrocesso é mais seguro
E o vento trás escuro
Por entre folhas amarelas
E aqui, parece elas
Amarelo de olhos baços
Cansado, a mente em estilhaços
Que o vento não que levar

Incerteza é afinal
Este modo de pensar
Um passo atrás outro à frente
Parece coisa de demente
Não sei se vou se hei-de ficar
Incerteza é vendaval

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Ludibriando o rumo

Rio acima contra a corrente
Incerteza não é vaidade
Na mente feita vontade
É moleza sempre presente

Amanhã é outro dia
A chuva não vai molhar
O meu clube irá jogar
Amanhã é qualquer dia
Não me irão doer as costas
Na mesa o pão escasseia
Eu sei lá quem semeia
Amanhã são horas mortas
O filho não vai à escola
Acabou-se a gasolina
A novela tem gente fina
Amanhã eu peço esmola

Rio a cima fugindo ao rumo
Assim vai Portugal
Amanhã pode ser fatal
As mentes dizem que é fumo.

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo