quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Ano Novo


No crepúsculo de mais um ano
Ás estrelas do céu eu peço
Calor e dedicação quem sabe um novo começo
Para todos os que sofrem, para os que nada têm
Peço o calor de uma lareira, um prato de sopa quente
Peço para os meus amigos o que quero para mim
Ternura e atenção, um caminho sem ter fim
Para os que são chegados um olhar mais atento
Um ano novo abençoado um novo renascimento
Par os que estão distantes um pouco de magia
Numa palavra errante, quem sabe estrela guia
Peço ás estrelas do céu, para ti que és peculiar
Ter sempre o privilégio de te ver caminhar

É este o meu pedido ao ano novo que vem
Que não se esqueça o que expira
Olhando o agora e mais além
Que o ano novo nos traga o abraço p`la vida inteira.

Bom dia

Se me disser bom dia
Fale baixinho
Não acorde as borboletas
Que todas as manhãs me visitam
Faça como elas e sussurre ao meu ouvido
As palavras que quero ouvir
No olhar coloque alegria
No sorriso traga  paz
Na mão aberta a certeza
De que mesmo na ausência
Se lembrará de mim

Se bom dia me disser
Fale com voz suave
Talvez ajude a esquecer
O que a alma enegrece.

Eu que não sou de promessas
As borboletas soltarei
Voarei nas suas asas
E bom dia lhe direi.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

No silêncio

Morrerei no silêncio
quem sabe...
Calarei na garganta um grito aflito.
Uma nota singela em clave.
Calarei na garganta o sentido
do meu olhar aguado.
Morrerei no silêncio
de uma madrugada.
Fingirei que não é nada
quem sabe me oiças
me adivinhes, mesmo calada.
Morrerei no silêncio
e a minha boca fechada
gritará sofregamente...
A minha vontade esfaimada.
Alma desfolhada
de um cacho em flor.
Gritarei no silêncio
a palavra Amor.


Morrerei sem saber
se o grito ouviste.
Morrerei a dizer
meu amor tu não viste!

domingo, 25 de dezembro de 2011

Afinal é ou não Natal

Manhã de Natal
O silêncio pesa na rua, as fachadas dormem
Ao longe o barulho de um carro
O gato dorme também silencioso
Apenas o ruído do meu pensamento
Abala a quietude deste momento

Se a  chuva caísse diria cheira a Natal
Mas o sol teimoso abre-me os braços
Assim a vida os abrisse aos que sofrem
Diria que o Natal se tinha desfeito de embaraços

O silêncio continua a reinar
A minha filha dorme no outro andar
E eu escrevo, mas para que escrevo afinal
Se hoje é manhã de Natal
Que me importa a mim se alguém tem frio
Ou se alguém se despenhou no vazio
Não, não me peçam olhares ternurentos
Num só dia
A minha filha quando acordar sorrirá
O gato tranquilamente acordará
Até as fachadas abrirão os olhos
Delas a vida transbordará em molhos
Uns de um doirado vistoso
Outros de um castanho rugoso

Eu comodamente fecharei o caderno
Esquecerei que este é um dia de Inverno
Dia de Natal
Caminharei apressada pela rua a fervilhar
Irei de encontro a quem está a passar
Mas não o olharei.

Afinal é ou não dia de Natal.
Afinal depressa me esquecerei
E o mundo pelos vistos continuará mal
Eu estranho que um dia também morrerei.

É Natal

É Natal…

É Natal
O sol acordou brilhante
Reparto-o contigo neste instante
Em que a paz me visita
Cabe-te a ti transportá-lo
Pelos meandros da vida
É Natal
Abre a janela e sorri
Estás vivo, sim

Apanha o raio de sol
Embrulha-te na sua magia
Faz do amor lençol
Não apenas neste dia

Repara com atenção
Em quem está a teu lado
Estende-lhe a tua mão
Num abraço apertado

É natal
Cabe a nós afinal
Distribuir a magia
O Natal só é ancestral
De fizermos da noite dia

sábado, 24 de dezembro de 2011

Uma prenda no sapatinho

Para ti que deixaste uma marca especial
É para ti que escrevo um texto de Natal
Nele coloquei azevinho, uma ave no ninho
Coloquei um ramo de oliveira no teu caminho
Coloquei uma estrela, pedirei que te abrace
Quando te sentires sozinho, que te enlace
Sentirás a minha presença numa aragem amena
A noite serena envolverá a sombra do teu olhar
Com uma luz capaz de alcançar
O meu coração desperto na saudade
Para ti escrevo neste Natal
Para ti que cruzaste o meu caminho
Não estarás sozinho
Porque o meu pensamento é teu
Peço ao menino que te lembres de mim
Peço ao menino que ilumine o teu céu
Assim as forças do universo transportarão carinho
Por ti e por mim, sorrisos sem fim
É a prenda que almejo no sapatinho.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Início do fim

Deixa-me pensar que morri
Talvez a noite me vele
A lua e as estrelas quem sabe me chorarão
O meu peito é um barco vazio
Não se atreve a sonhar
Quem sabe as pedras me venham velar
Deixa-me pensar que morri
Ainda á pouco na escuridão
Vislumbrei um vulto
Era a minha alma vadia
Correndo por entre as nuvens
 A lua e as estrelas acompanhadas das pedras
Correram no seu alcance
Mas teimosamente
A minha alma afundou-se
A noite por fim rendeu-se
Deixou de olhar por mim
Por isso deixa-me pensar que morri
Quem sabe me olhes de novo
E seja o inicio do fim
O barco atraque no porto.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Feliz Natal 2011

Desejo um feliz Natal a todos os que passaram por aqui ao longo do ano, na impossibilidade de o fazer um a um porque são muitos deixo a todos o meu obrigado, de alguma maneira fazem parte da minha vida, com todos vós sorri muitas vezes e algumas escapou uma lagrimita atrevida. As palavras de apreço e gratidão deveriam ser ditas ao longo do ano mas nesta quadra tem outro sabor, principalmente para aqueles que estando sozinhos encontram aqui nestas páginas o carinho e o conforto que os faz sentir vivos, para esses os meus votos redobrados. Obrigado por estarem aí desse lado.
Um beijinho de carinho e apreço para todos.

Sonho

Ás vezes pergunto
O porquê à solidão
Ás quatro paredes
Pergunto porquê o vão
De uma janela sem sentido

Apenas a noite me visita
A voz que ouço é a sua
O frio gelado do Inverno
Trás com ele a recordação
De que um dia também sonhei
Acreditei e cresci
Tantas vezes escrevi
Em terreno baldio a aspiração
Um entardecer confortável
Uma mão amiga em voz doce

Porquê a solidão
No conforto que as paredes transmitem
Parece tudo tão deslavado
Pergunto de que vale ter telhado
Se ele é de ferro fundido
Não deixa entrar o ruído
Das gargalhadas sinceras
Porquê a solidão
Nas horas serenas

Pergunto mas não tenho réplica
Acho que sou eu que murchei
Transformei o sonho e a resposta
Em algo que não imaginei

Mas ainda á pouco senti
Que pouco ou nada me importa
Igual á erva mirrei
Fechei a janela e abri a porta
Mas o sol passou e não vi.


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Natal Triste

Olhaste para ele num breve instante
Será que o viste como é
Questão impertinente se achegou
Sem pedir licença se abeirou
Ao meu coração moído
Trouxe num momento condoído
O pensamento que teimo em esquecer
Com ele trouxe no peito a bater
Um soluço que se abriga na garganta
Trouxe um corpo gelado sem ter manta
Uma floco de neve no beiral
Olhaste para ele, a pergunta
Que sem ter resposta agoniza

A noite corre de mansinho
Cheira a Natal lembra o azevinho
Olhaste para ele ó Deus Menino
Reparaste no seu corpo franzino

Olhaste para ele e não o viste
Só assim entendo o seu viver triste.
Olhaste para ele afinal
Responde ou não será Natal.

Deixa

Deixa que adormeça `` de mim´´
Deixa que esqueça o que sou
Deixa enfim, embrulhar-me em cetim
Olhar-me no espelho e dizer aqui estou

Deixa as horas passar
A noite e o dia
Manda o breu passear
Com ele a ventania

Que os meus pensamentos impelem
Fazem-me erguer dos escombros
Mas faltam-me asas
E sussurros que me acompanhem
Faltam-me as horas curtas
Os dias pequenos, porque duvido afinal
De mim
Deixa que adormeça quem sabe se acordar
Encontrarei o teu olhar
Deixa que esqueça sim
De mim e do silêncio que me chega
Na noite a soluçar

domingo, 18 de dezembro de 2011

O Natal chegou


Um vulto apressado no corredor do tempo
As aves dizem-lhe adeus, ela nem repara
Disfarçasse ele uma sonolenta  nostalgia
E o tempo certamente ainda lhe sorriria 

O Natal chegou e ela nem se atreve
A olhar o tempo de um ano que finou
Olhe que agora o dia mingou
E ele sabe que ela não parou

Tem muitos anos e rugas na cara
Os natais já nada lhe dizem
Muito menos as aves que ainda predizem
Alguns dias de sol que ainda condizem

Com o brilho no olhar e um ar astuto
Quando a olha com olhar certeiro
Menina porque corre o dia inteiro
Faça como eu sou velho e matreiro.

E lá volta ela à sua correria
E lá vai ele sentar-se no banco
Ela corre apressada sem ligar ao espanto
Com que ele a olha escondendo o pranto

Os pombos que saltam de banco em banco
Parece que predizem a quadra festiva
Será que reparam nesta estranha lida
Um dia de Inverno a juventude e o fim da vida.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sou eu

Sou eu…

Não sei porque me pesam as palavras
Nem tão pouco as mãos despidas
De artefactos, porque me pesam os dias
Os sonhos fugidos em todas as horas

Porque me pesa a razão, o medo a fantasia
Porque me pesa afinal até a fresca maresia
E os poetas, esses, tem um peso infernal
Na minha vida despida, descobri afinal

Que não são os outros que me pesam
Sou eu o peso morto que não encaixo
Nos pesos daquilo que pensam
Sou eu o peso descabido sem tino a ter sentido
Sou eu o peso transparente, palavra sem ouvido
Sou o pasto da semente, terreno árido
Uma guitarra sem cordas de um velho fado

Sou eu, quando escrevo as minhas merdas
Sou eu, quando te olho sem te ver
Até sou eu fingido que não quero ser.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pelo sim e pelo não

Quer sejam azuis ou amarelos, os sonhos
Que invento dia a dia, sou feliz ou infeliz
Conforme a ânsia em que vivo, medonhos
São os receios, devaneios de mente incrédula
Que sei eu afinal da sorte, aprendiz
De feiticeiro este meu ego brejeiro, incerta
É a vida à nascença, nada há que me convença
Errata naufragada na penúria existente
Consistente é o verso do avesso, perdurável
O desejo pertinente de ser meu, improvável
O olhar impenetrável que me lanço

Balanço final para presentear a aflição
Que aflita balanceia a ilusão, que seja feliz
Pelo sim e pelo não.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Entre quatro paredes

Entre quatro paredes falo contigo
A cada sombra lanço um sorriso
Á luz mortiça que pende do tecto
Lanço um olhar e um feitiço

Falo de mim do que já foi
Daquilo que espero ser
Falo da sombra e de quanto dói
O silêncio no entardecer

Falo de um tempo que nunca vi
Das tardes calmas do luar de Janeiro
Falo dos dias que vivi
Procurando breve sombreiro

Entre quatro paredes perco a razão
É sempre assim quando a solidão
Entra pela porta e me dá a mão

Falo de tudo comigo a sós
Desfolho dores e alguns sorrisos
Enquanto teço roliços nós
Em cada lágrima que me cai aos pés

A todas elas eu dou abraços
São a companhia que faço em estilhaços
Do peito me pende grosso cordão
Que o silêncio abraça e me estende a mão..

sábado, 10 de dezembro de 2011

Faz um favor às pedras

Faz um favor às pedras
Ás pedras da minha rua
Não lhes pises mais as ervas
As ervas que são suas

Faz um favor às pedras
Deixa que o verde as beije
E quem sabe alguém deseje
Que as pedras brilhem ao sol
E de noite à luz da lua
A solidão é lençol
Que as ervas desvirtua
Faz um favor às pedras
Ás pedras da minha rua.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Clandestinos


Uma casca de noz baloiça nas águas frias
Leva no centro uma saudade de prata
Como velas a esperança mão-cheia  de mágoas
E os homens jazem no fundo que mata

Uma casca de noz que se transforma em adagas
Sempre que o mar revolto sacode a fragata
E os corpos jazem p`lo chão, agregado em agruras
Almas cansadas, olhos ao céu e a chuva em cascata

Sem pena ou omissão numa fúria sem perdão
Fustiga os corpos tremendo de frio, o vazio
Afunda a alma que entretanto perdeu o brio

Dos poucos que chegam a uma Europa em trapos
São recambiados e os sonhos em farrapos
Afogam-se na praia sem dó nem compaixão.

Os remendos

Os remendos nos meus pés
Sempre presentes
Deixam rasto afinal
Muitas vezes sou demente
Algumas nem bem nem mal
A maioria assim-assim
Tola por fim
Chego ao lamaçal

Coloco mais um remendo
Saltito, penso ser vento
E adormeço
De manhã quando acordo
Olho o espelho enfastiada
É meu amigo afinal
Sorri, vai lá lavar a cara
Porque a alma não precisa ser lavada

Afinal era poeta...Obrigado

Correm as borboletas sem asas, esvoaçam
Perdem-se e cansam-se, afastam-se do horizonte
Correm ideias, corre nas veias um instinto animal
E o crer que parece altruísta, é comodista afinal
Corrói e polui o cercado, o longe é tão distante
Tudo faz crer e até os recados se esgotam ao ar, cansam
Estes desfasamentos intelectualizados
Os monumentos a deuses passivos
Cansa a falta de ideias, muito mais os cercados

As borboletas nascem para a  liberdade
Em voos dispersos por um dia de vida
E os poetas nascem para ser ouvidos
Para serem censurados ou em ombros levados
Os poetas nascem para a eternidade

Só assim a escrita acontece
E quem sabe um dia, o que por cá ficar
Alguém reconhece.
Afinal era poeta, sabia o que escrevia.

Era tão bom se o poeta adormecido
Erguesse a mão do tumulo num adeus descabido
Era tão bom que poeta depois de morto
Pudesse dizer obrigado
Afinal valeu a pena tanto sonho inacabado.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vida

Será a vida tresloucada
Fruto que murchou
Será o tempo arredio
Pedra que saltou
Será o Inverno sem estio
O culminar da trovoada

Tudo passa a reboque
Tudo muda tudo some
Além no descarrilar p`rá morte
É que o sonho se consome

E os homens
Deles tão pouco resta
Fechado na mão fica apenas uma aresta
E os homens
Serão o sal ou o salitre
O rei ou o pedinte

O fim sombreia a corrida.
O homem
Esse une-se à terra sem vida.



terça-feira, 22 de novembro de 2011

(Fados) Tentação

Traz-me uma ponta de sol
Uma nesga de céu azul
Traz-me um pedaço de terra
Uma ponta verde da serra
Traz-me uma romã vermelha
Em bagos regados a groselha

Traz-me meu amor a ternura
Mata-me a sede a secura
A lonjura é má companhia
Traz-me um sorriso, a luz do dia
Um ramo de verde cheiro
Meu amor afasta o Janeiro

Então florirá a Primavera
A minha sede em quimera
Satisfaz a tentação
De tocar na tua mão
Caminhar lado a lado
Meu amor traz-me um fado
De refrão repenicado

Adoça o beijo adiado
Aquecendo  a tentação.
Meu amor canta-me um fado
Que me fale ao coração.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Desejo


Trago na pele uma mistura transparente
Só eu a vejo, só eu a sinto
Torna os meus dias num labirinto
De memórias em contraste
São os sentidos, os desejos
Até me atormentam alguns ensejos
Mas, o dia corre apresado é benevolente
Ao meu desejo aguado

Trago na pele o teu cheiro
Só a minha alma o presente
Assim alimento o desejo
De que a distância seja insolvente.

domingo, 13 de novembro de 2011

Os teus passos

Os teus passos são uma valsa de Schubert
São o lago dos cisnes de Tchaikovsky
São o vento que desliza charneca fora

Esse toc, toc na calçada
Elevam-me ao pico de uma ilha deserta
Por lá me fico, de tudo alheada

Ao som dos teus passos quero adormecer
Nessa melodia quero me perder
Ao som dos teus passos

Eu quero viver.

Júlia Soares ( Pseudónimo )

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

De mim

Permissível é a procura inconstante de mim mesma
Imprevisível a procura que desfaço. De um abraço
 Um sorriso no rosto, o pequeno gosto de um aconchego.
Em contra mão procuro à noitinha a outra metade
Eu sei que está ali no meio do escuro, mas a verdade
é que desisto, cruzo os braços sossegadamente
Encosto a cabeça à ombreira da solidão
Afasto-me assim de mim com permissão.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Seria pedir muito


Dou por mim olhando as letras
Estou sentada defronte ao nada, pasmada
Com a velocidade estonteante, cometas
Se transformam as letras de uma assentada

Primeiro olho o P de seguida o A
Como quem não quer a coisa vai o Z
Logo atrás, a enxurrada traz a palavra
Paz, eu olho e olho com olhos de quem fez

Uma mistura gulosa que atrai  atenções
Desmembro o pensar em mil e uma razões
Ah, este ego carnudo que me sacia a fome
Seria pedir muito que saciasse o homem
Então o meu pais correria sobre rodas
Se a poesia gerada num tudo de palavras
Fosse a estrada, se a seguissem as multidões
Eu sei, sei porque sei que os poetas do meu país
Seriam guiões, transformariam  prisões em lagos
Onde as mentes correriam a afogar os socos

Que um novo dia sem alcance lhe dá nas costas
Mas este meu ego raivoso só a mim sacia
Hoje acordei assim, azeda e escrevo razia
Benditas as letras mudas que me deixam olhar poesia

Chamem-me nada, digam que sou utópica
Digam tudo o que lhes der na real gana
Digam tudo de tudo, deixem atrás a retórica
De que os poetas deste país são gente louca,

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A velhinha


Senhor Manuel o meu pãozito
Assim é todas as manhãs
Eu observo seu rosto bonito
Recordo a frescura das romãs

Costas curvadas p`lo peso da vida
Em passos curtos a praça percorre
De xaile nas costas fica tão bonita
Nos cabelos brancos a vida escorre
Eu observo seu olhar nobre
Ao mesmo tempo a ideia cogita

Quem será esta velhinha
Que se chega p`ra compar o pão
Será que em tempos não foi sozinha
Porque a solidão lhe escorre da mão

Terá tido filhos que deitou no mundo
Terá tido amor por breve segundo
Tantas as perguntas que quero fazer
Morrem nos meus lábios sem acontecer
Observo sem me alongar
O que receio se me aproximar
Tantas as perguntas sem ter respostas
Por fim vou embora num virar de costas

Quem será esta velhinha
Minha mãe poderia ser
Poderia ser a rainha
De um país por acontecer.


Recordações

Quero as recordações sem dia nem hora
Quero a imagem cristalina, ali presa na retina
Quero sol, quero a lua, a alma nua
Sentir o aconchego de uma aguarela esbatida
Anilada, levemente sombreada pela cor

Quero acordes ligeiros, um piano
Quero as tuas mãos percorrendo o meu rosto
Quero o vinho mas primeiro o mosto
A mistura açucarada em pleno Agosto
O travo na boca após o sabor

Intenso da saudade, que deus me dê saudade
Só não tem quem não chegou a nascer
Saudade, cabelos brancos a crescer
Uma vida, um entardecer
Saudade nem sempre é dissabor

É um caminho sem volta
Muita alegria e cor
Saudade se te afastas meu amor
É o descair da noite sabendo que chega o dia
Saudade palavra fácil e de muitos companhia

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Deixa-me escrever pequenos nadas
Porque me negas o modesto
Deixa-me escrever sobre o pó
Ou então sobre o funesto
Que me abraça sem dó
Deixa-me escrever desfolhadas
Em histórias que a memória guardou
Deixa-me escrever sobre nós
Sobre os dias que vivo, as noites que tenho
Sabes escrever significa as Mós
Que me elevam ao cimo me afastam do lenho
Ao qual uma pedra abraça, qual barcaça
Que se afunda, afundando também o sonho
O marasmo toma conta de mim ensopando o olhar
Só escrevendo afasto o pó, só assim consigo andar.

Moínha

Uma moínha irrequieta tomou conta de mim
Talvez seja do Outono e da chuva que chegou enfim
Toma-me os ossos, a pele cansada, comigo dorme
E dá-me os bons dias, assim me consome.
Esta moínha por vezes é manhosa, ri caprichosa
Do meu olhar aguado, ri do meu desejo vincado
No canto da boca crispada pela saudade.
Ri mas de seguida afasta a vontade
Que tenho de te dizer, é o Inverno está bom de ver
Este inferno em que se tornaram os dias.
Outras vezes a moínha traz frescas maresias
Que humedecem os cabelos brancos, vê bem
Até humedecem os lábios num breve desdém
Que fica aquém da moínha que corrói o pensamento

Não me dá descanso, será do Outono ou é o falhanço
Estampado na incompreensão do teu olhar intrigado. 
 

O que resta

Promessas são fisgas que arremessam ilusões
Pobres das almas que desconhecem, e assim padecem
Num tempo após risos francos, os nós corredios
Chegam, quando se afasta o estio esvaecem
Fragmentos e sentimentos que outrora trouxeram risos
Trazem agora a mágoa na incompreensão, as devastações
Propicias ao manto gelado que cobre o corpo
Torce-se agonizante nas faltas sentidas, nada é como dantes
O sol que aquecia as vidas agora é preguiçoso
O néctar de um beijo desfez-se em lágrimas salgadas
São tantas as madrugadas sem dormir
Promessas são tormentos a advir
Num tempo de cansaço e de desleixo

Gritam as bocas, soluça a alma, resta sucumbir na terra calma

Ainda


Ainda me escorre da lembrança
Um tempo anilado
Um perfume adocicado
Os dias esguios, os sentidos
Alertas para o toque das almas
Recordo ainda as tardes calmas
As sombras frescas, a erva verde
Recordo vê tu o amargo da sede
E o saciar na fonte fresca

Recordo um tempo que foi nosso
E que o tempo inexplicavelmente surripia
À idade que aos poucos esvazia
A vontade de agarrar, finjo que esqueço
O toque da tua mão, esqueço a aragem
Até o grito que sufoquei
Ignoro se anseio, apenas sei
Que a vontade destroçada
Me diz que sou pouco mais que nada.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Visível

Pega-me ao colo e deixa  que adormeça
Deixa-me sonhar que sou criança
Transmite a tranquilidade que almejo
Agonizo constantemente e nem reparo
Intranquilamente troco a vida por concerto
Surripiando à memória o impossível
Pega-me ao colo, torna assim visível
O melhor que há em mim.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Foi assim

Quando imaginei que não pensava
o pensar ficou rabugento
 atordoo-me o pensamento
colou-se por entre os olhos.
À boca saltou-me por entre os dedos
impávida acomodei-me no sereno
de um pensamento ameno
a tua imagem na minha pele saltitava

Foi assim ainda há pouco…

Quando sinto esvaziar
a mente corro a avivar
de versos corridos, fugidos.
Assim reavivo os sentidos
os dias percorridos. Tornados
ao peito enfim, suspenso pedaço de mim.
Uniforme é o frenesim
que verte sonhados abraços e assim
descaio por fim em teus braços.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Cegueira

Perde-se tudo por entre os dedos
A perda é medonha na celeridade
Mas o tudo está cego

É uma cegueira enfeitada de razão
Uma mistura solúvel onde se perde
A essência do alcance
Nunca se olhará por cima do ombro
Muito menos sentirá a leveza e o seu peso
Que acomoda a alma tranquilamente
Impávida confesso observo

Nada resta quando a luta é desigual
Nunca saberá das minhas horas acordada
Nunca saberei da sua madrugada
A distancia entre nós é abismal

Num tempo já ido pensamos ganhar
Hoje sinto o vazio no sangue a gelar
Pergunto será que sente o mesmo sentir
Será que a utopia está prestes a ruir
E nós enfeitaremos os dias seguintes de percas a negar.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Quem fui

Deixa-me ficar entregue ao pó
Inquietações por vezes são desnecessárias
Não faz sentido nefasto dó
De quem se abastece em mortalhas

Serei eu mesma eternamente
Remoendo recordações, o que foi e já não é
Por isso não faças banzé
Serei a teus olhos demente, um simples pedaço de gente
Posso até ser transparente, estribilho e lamiré
Serei eu, e só eu simplesmente

Deixa-me ficar por entre sombras
Nelas encontro a força, são repasto
Ao meu estômago insaciado
Na curvatura das costas
Deixa-me exibir o vergado
De um tempo de alguma monta

Passou já é passado, um galope aturdido
Da planície alentejana que ainda ressoa no vento
Não ligues ao desalento muito menos ao momento
Em que perdida vagueio, desalmadamente semeio
Um tudo ou nada  alheada procuro a vanguarda
Perdida na voz do vento, teimoso o pensamento
Veloz conduz a jornada
Impede assim que me esqueça de quem fui um só momento.

Mistérios


Sustêm o peso da minha alma
Na lembrança, na ponta dos dedos aflitos
Sustêm meu amor os sentidos
Endeusamento e calma
De tantos instantes olvidos

Imagino o passar dos anos, a solidão
Companheira caprichosa um tanto irrequieta
Que interpela o resguardo, a bonança
Mistérios guardados de um coração
Delicadamente cativos na mente liberta.

Sustêm o peso da minha alma
Na antevéspera da morte
Solta-a ao vento e corre
Procura em redor sem vivalma
Um vinhedo, e sepulta p`ra sempre a sorte.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Corre


Corre pelos corredores da ventura
Salta barreiras e vãos
Eleva ao alto as mãos
Só assim serás tu

Não temas apresentar-te nu
Na simplicidade a sorte
De saber viver

Vai, empurra o cansaço
Desfaz-te de embaraço
Encara o dia de frente
Deixa lá o ser diferente
Na diferença a vitória

Corre, sente o vento na cara
Nos ombros sente a leveza
Atreve-te, faz guerra à tristeza
Finalmente dormirás descansado
O dia ao olhar-te denotará um fardo tombado

Aos teus pés tombou a morte e a sorte revive por fim
No passo que deste em frente
As desilusões pereceram o teu quinhão se achegou
Agora estás pronto, faz-te à vida que por fim vislumbrou
Em ti a vontade de perderes as penas
As penas com que te olhas

Repara o sol nasceu apesar da trovoada
Assim pode ser a jornada, basta que a vontade
Nunca seja saciada.

 







Se a memória

Se a memória arrefece, parece icebergue 
Desfaz um corrupio assombrado
Por vezes deslavado de sentimentos
Caem partículas de neve dos meus olhos
Não são lágrimas, são espirais abismais
De desilusões manhosas
Insondáveis que circundam os dias
São velhos animais
Com pelo que cai aos bocados
São ecos tresloucados

Se a memória de um povo arrefece
O país arruína-se e os abutres circundam a vida.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Lágrima


O som do vento suão traz com ele uma lágrima
A musica que me embala tristemente enraizada
Aconchega o coração mas é tão triste a balada
Que entra pela janela da minha velha mansarda

O som do vento suão transporta a nostalgia
De um dia acreditar que na vida eu teria
Um amor, o confiar numa voz que me dizia
Canta uma rima bonita deixa entrar a alegria

O som do vento suão esta tarde é sonolento
Apetece fechar os olhos, quero esquecer o momento
Em que uma lágrima corre serenando o esquecimento.

domingo, 16 de outubro de 2011

Moínha



Porque o tempo me pega de jeito
Me diz, envelheceste…

A estrada ficou para trás
A poeira assentou nas bermas
O restolho ganhou morrinha
Caiu a chuva em moínha
A cal cobriu cabelos
Em sonhos soltos, singelos

Porque o tempo há muito perdeu feitio
E o fato encolheu…

A morte espreita além
A cova jaz ao léu
Coberta p`lo azul do céu
Os olhos enfraqueceram
As pernas ficam aquém
Da destreza, sou ninguém

Porque o tempo é apressado
Debanda tresmalhado…

O amor partiu também
No vão de sete mares
O dia surgiu aos pares
De olhos olhando ao longe
Agora que o tempo é monge
Rezando uma novena
Os olhos perdi de cena

O tempo é acendalha
Ateia gasta fogueira…

Jaz em saco roto
Eu fiquei sem troco
Ao tempo é escusado
Impor ritmo ou fado.

Saber dosear o tempo
Sebenta da alma no “”beiral”” debruçada…

Que a musica

Que a música traga a paz que os poetas desconhecem
Que traga com ela uma ponta de estrela
Uma partícula de uma constelação longínqua
Que a música me embale, me estique os lençóis
Me diga boa noite. E amanhã…
Traga a força ensolarada deste Outubro em chamas
 E o sol, o sol penetre as janelas da alma
Que a música traga o som da harpa
Nas mãos de uma criança curiosa
Traga com ela uma guitarra, na voz cansada da minha mãe
Que cante um fado
Embale, traga de volta a esperança
De ser criança.

Que a música traga a força, e livremente
Me sacuda ao alto…
Ao cair feito em pedaços no frio asfalto
O meu corpo cansado sucumbirá
Percorrendo um clave que abrirá
O fosso da alma onde pernoito
Por fim… um novo poema renascerá!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Conta-me

Conta-me…

Conta-me uma história de amor
Estou cansada de histórias sem cor
Do frio dos olhares vazios
Dos passos corridos que galgam
Sonhos, passam por eles e não vêem

Conta-me, mas não uma história qualquer
Recorda a infância, volta a ser criança
E sonha com histórias de abismar
Quem sabe um sonho em corcel
Traga num repente uma nesga de céu
Se levante o véu que pende nos olhos

Se transforme em molhos e raízes
De dias quentes e felizes
Conta-me uma história de final feliz
Estou presa numa rotina inquieta
Estou presa no rosto que diz
Porque passas por mim a correr

Vem, conta-me uma história quero acreditar
Que serei sempre capaz de sonhar
E que tu, estarás comigo nesse deslizar.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A vida acontece

É nos instantes mais simples que a vida acontece
Naqueles momentos onde o dia pára e o caminho
Alarga além do horizonte, o dia parece um ninho
Fixo no alto de uma oliveira e tudo esvaece

As dores ficam perdidas num mar azulado, síntese
De pedaços de mim e de ti flutuam em arminho
De uma transparência sublime, devagarinho
O dia termina a noite povoa recantos enaltece

Assim acontece quando os sentidos se soltam
Quando o caminhos paralelos nos empurram
Pelo limiar de sensações e a tranquilidade

Se apodera dos corpos sem mancha ou vaidade
Assim acontece quando o dia não concede
Ao tempo que corre um trote ligeiro que excede

domingo, 9 de outubro de 2011

Juízo


Porque as mulheres esta semana alcançaram o reconhecimento, de uma academia muitas vezes retrógrada na atribuição dos prémios, o fruto do seu trabalho e da sua luta pela igualdade entre pessoas em países muito difíceis onde o preconceito e o racismo imperam, onde o medo e a morte reinam de mãos dadas foi finalmente reconhecido. Parabéns a todas as mulheres de lutas justas pela humanidade. Todas nós, mulheres, assim como todos aqueles onde a voz é ou tenta ser silenciada nos quatro cantos do planeta, fomos todos galardoados esta semana com o prémio Nobel da paz.

Compreendo...
O quanto é difícil empurrar padrões
 Dizem nem todos nasceram para pensar
Compreendo...
Não aceito o desperdiçar
Do respeito
Compreendo!
Tudo o que é velho tende a caducar
Então de que vale persistir no retrógrado?

Será o medo a falar mais alto
Será a falta de tacto
O machismo atrofiado e indigente
Será a ganância
Ou então a falta de visão
De valentão em extinção

Compreendo um pouco de tudo
Muito menos que queiram mudo
O outro...

Pode ser mulher, ou homem
Criança ou indigente
Pode até ser demente
Mas é gente

A igualdade é direito
Não é oferta

Se achas que sou obsoleta no meu raciocínio
Tenho pena de ti estás exposto ao extermínio

Mas dormes tranquilamente à sombra do teu juízo.

 

sábado, 8 de outubro de 2011

Precisava


Precisava de morrer
Para nascer de novo
Talvez assim o pouco
Se tornasse muito
Ao meu olhar moído
Precisava de morrer
Para aprender a rir
Não ter medo de partir
Engrandecer
O pouco que fecho na mão
Me escorre aos pés feito quinhão
Por merecer

Precisava de morrer
Para conseguir ver
Além de mim mesma
Lesma
Assim é o pensamento
Indolente
Que não compreende a grandeza
De nascer
Para que um dia qualquer
Ganhe o direito de morrer

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Tristeza

Tristeza palavra ingrata
Estou triste sei lá porquê
Ou então porque estou vidrada
Naquilo que não consigo
Estou triste mas não é contigo
É apenas uma agonia
Querendo arruinar o dia
O sol está encoberto
E a tristeza cobriu meu teto

Ou então
Está triste o meu coração
Que tristeza o parvalhão
É tolo vive feliz
Tristeza aquele infeliz

Tristeza palavra fácil
É usada de modo táctil
Para chamar alguém de tolo
Ou então servir de consolo

Quando temos pena de nós
Outras vezes é pilar
Onde acabamos por atracar
Um moinho de muitas Mós
Que acaba por malograr.

sábado, 1 de outubro de 2011

Esperança

Há dias em que preciso de um abraço
Mas ninguém parece reparar
Preciso de um sorriso amigo
De um ombro onde me aninhar

Há dias que preciso de palavras doces
Esta fartura caricata de palavras antevistas
Num tempo impetuoso de contas previstas
Preciso muito mais que números cancerígenas
Estou farta, estou cansada de palavras ocres

Preciso de um colo, de um contar de historias
Que me façam rir de mim mesma
Tenho saudades de quando se ria
Com prazer sem medo a doer
O riso que não era preciso esconder

Como se rir fosse pecado de mente destravada
Está tudo tão opaco, tenho saudades
Das conversas à lareira, das tardes de soalheira
Dos meus tempos de criança
Tenho saudades de quando acreditava
Se um amigo se encontrava
Era p`ra sempre, no sempre das tardes
Alguém chegaria com um braçado de esperança.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Teorema


No outro dia saí pé ( antes) pé
De mim mesma
Eu explico a contenda
Caminhei pela beira de ti
Tropecei no beiral de mim
Assim
Pois é

O teu cheiro na almofada
Deixou-me transtornada
Afinal…
De que lado da cama dormi
Ai de mim!
Deslizei para o outro lado
Tudo trocado
O teu cheiro
Tão vincado
Saltei da cama num ápice
Em cima da mesa
Num (cálice)
O teu cheiro, ali

Regressei para a cama
Adormeci…
Nisto acordei
E por fim desnudo
O teu pijama
ali
Afinal (teorema)
Sim, sim
Teu sorriso
 O meu mundo é assim.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Desapego

Ouvi perderem-se os passos na calçada
As pedras recolheram-se no sossego
A lua escondeu-se bela mas envergonhada
A minha alma empalideceu sem aconchego

Na noite extraviou um grito e a alvorada
Aproximou-se pedindo perdão cego
Nasceu o sol nesse dia naquela estrada
Sumiram-se as pedras da calçada em desapego

Viras as costas, enorme o peso dos teus ombros
Quando caminhas com passos incertos
Serei eu a enganada ou serei para sempre amada

Ou serão as pedras da calçada agastada
Pelas findas e vindas numa estrada imaginada
Que te trás até mim por breves momentos.

Júlia Soares (pseudónimo)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Medo

Há-de ser o medo o maior empecilho!
Arco circundante que limita horizontes.
Numa insolvência por vezes subtil,
agoirenta, luxuosa(mente) senil.
É patriarca de certas ganâncias!
A vida escorre leitosa pelos riachos entupidos...
Numa perversidade insidiosa, encaminha
os sentidos, bifurcados fogosamente na ganância.
E os homens esperam...

Enquanto outros homens maquiavélica (mente) apontam...
O medo... não vás por aí... não é seguro...
 Não vás por aí... olha a barreira...
Repara: além abre-se a fronteira...
A torneira; pinga-pinga!

Há-de ser o medo a pedra bacilar que impede (...) Autonomia!



Não sei


Não sei
Nada percebo de saudade desnecessária
Ingrata inquietação que me assola
Os abutres circundam a viela
O barulho das asas transporta saudade

De voos inacabados
Interrompidos pelas certezas
O barulho das asas traz incertezas

Se tivesse virado naquela esquina
Se tivesse saltado aquele muro
Deslizado pela sombra
Se o sol não tivesse sido a meta

Teria amealhado esta saudade escusada
Que me conduz a algures
Um sitio remoto na imaginação
Onde adivinho o toque suave da mão
Que me conduz pela razão contrária.

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo