segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Olhares

O corpo corre apressado
O dia ainda vai alto
Corre de alma trespassada
Pela chuva ou pela geada
Por murmúrios em espalhafato
Movem-se queixas ao desbarato
Das costas doridas, cansadas
Dos pés e das pernas pesadas

Assim é a lide no campo
Os ossos gemem com mágoa
Parecem mesa sem tampo
Fonte com falta de água

E eu, olho de lado.


Caminho em passo contado
Encolho os ombros, não vejo
As gentes do vilarejo
Que labutam dia e noite
Talvez um dia me afoite
E lhe ofereça um sorriso
Agora, falta-me o siso
E finjo, não estou nem aí
Espera, aquele velho sorri

Leu-me o pensamento
Olho para ele sem jeito
Menina repare é o vento
Que encana no seu peito

Esta é que não entendo.

Pois olhe fique sabendo
Tenho mais o que fazer
Diz-me o velho, foi um prazer
Trocarmos duas palavras
Olhares são como travessas
De cadeiras desengonçadas
Mas olhe que na cidade
Eu perdi a mocidade

Voltei e aqui encontrei
Na azafama sem ter tempo
O tempo que desperdicei
Em horas de contratempo

Segui caminho a direito.

Pensando se será defeito
Não olharmos as gentes simples
Como canteiros de fores
Algo não está igual
Não sei descortinar o mal
As costas me doem estafadas
As pernas ficaram pesadas
A alma enegreceu
No rosto uma lágrima correu

Um dia nasci no campo
Um dia também labutei
E hoje desconheço o pranto
Das terras que então pisei.

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Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo